sábado, 10 de julho de 2010

Glorifique a Deus! Mas não o Servindo. - John Piper

Não o servindo, mas sendo servido por Ele

Não glorificamos a Deus atendendo suas necessidades, mas orando para que ele supra as nossas — com confiança em sua resposta. Aqui estamos no cerne das boas novas do prazer cristão.
A insistência de Deus em que lhe peçamos que ele nos dê ajuda para que receba glória (SL 50.15) impõe-nos o fato surpreendente de que temos de parar de servir a Deus e tomar o cuidado especial de deixar que ele nos sirva, para não roubarmos dele a sua glória.
Isso soa muito estranho. A maioria de nós pensa que servir a Deus é algo totalmente positivo. Nunca pensamos que servir a Deus pode ser um insulto para ele. No entanto, meditar no sentido da oração requer que pensemos assim.
Atos 17.24, 25 deixa isso claro: O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais.
Se eu tivesse fome, não to diria, pois o mundo é meu e quanto nele se contém... Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás" (SL 50.12, 15). É evidente que há uma maneira de servir a Deus que o diminuiria, como carente do nosso serviço. "O Filho do homem não veio para ser servido" (Mc 10.45). Ele quer ser o servo. Ele quer receber a glória como doador.

Ainda servo na segunda vinda!

Mesmo em sua glória no fim desta era isso é verdade, não apenas nos dias da sua humilhação terrena. Para mim o quadro mais surpreendente da segunda vinda de Cristo está em Lucas 12.35-37, que retrata o retorno de um senhor de uma festa de casamento: Cingido esteja o vosso corpo, e acesas, as vossas candeias. Sede vós semelhantes a homens que esperam pelo seu senhor, ao voltar ele das festas de casamento; para que, quando vier e bater à porta, logo lha abram. Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor, quando vier, os encontre vigilantes; em verdade vos afirmo que ele há de cingir-se, dar-lhes lugar à mesa e, aproximando-se, os servirá.

Em que sentido Deus é diferente de todos os outros deuses?

É verdade que nós somos chamados servos — e isso, sem dúvida, significa que devemos fazer exatamente o que nos é mandado. O que é assombroso neste quadro é que o "senhor" insiste em "servir", mesmo na época vindoura, quando ele se revelar em toda a sua glória, "com os seus anjos poderosos, em meio a uma chama flamejante" (2Ts 1.7, NVI). Por quê? Porque o âmago da sua glória é a plenitude da graça que transborda em bondade para com os necessitados. Por isso ele pretende "mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus" (Ef 2.7).
Em que consiste a grandeza do nosso Deus? Em que ele é único no mundo? Isaías responde: Desde a antigüidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera (Is 64.4). Todos os outros ditos deuses tentam conquistar exaltação fazendo as pessoas trabalhar por eles. Ao fazer isso, apenas provam sua fraqueza. Isaías ridiculariza os deuses que precisam ser servidos por seus seguidores: Bel se encurva, Nebo se abaixa; os ídolos são postos sobre os animais, sobre as bestas; as cargas que costumáveis levar são canseira para as bestas já cansadas (Is 46.1).
Jeremias faz coro à ironia: Os ídolos são como um espantalho em um  pepinal e não podem falar; necessitam de quem os leve, porquanto não podem andar (Jr 10.5).
Deus é único. "Desde a antigüidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu..." E sua singularidade é que ele se propõe ser nosso Funcionário, e não vice-versa. Nosso trabalho é "esperar nele".

Deus trabalha para aquele que nele espera

Esperar! Isso significa parar e conscientizar-se com sobriedade da nossa incompetência e da completa suficiência de Deus, buscar conselho e ajuda do Senhor, e esperar nele (SL 33.20-22; Is 8.17). Israel é repreendido por "não lhe ter aguardado os desígnios" (Sl 106.13). Por quê? Porque, ao não buscarem e esperarem pela ajuda de Deus, privaram-no de uma oportunidade de glorificar-se.
Por exemplo, em Isaías 30.15, 16 o Senhor diz a Israel: "Em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na tranqüilidade e na confiança, a vossa força". Mas Israel se recusou a esperar no Senhor, e disse: "Não! Sobre cavalos fugiremos!" Então, no v. 18, revelam-se a estupidez e a malignidade dessa correria de iniciativa própria: "O Senhor espera, para ter misericórdia de vós, e se detém, para se compadecer de vós, porque o Senhor é Deus de justiça; bem-aventurados todos os que nele esperam". A estupidez de não esperar em Deus está em perdermos nos opormos à vontade de Deus de exaltar-se em misericórdia. Deus pretende exaltar a Si mesmo trabalhando por aqueles que nele esperam. A oração é a atividade essencial da espera por Deus: o reconhecimento da nossa incapacidade e do seu poder, o pedido por sua ajuda, a busca do seu conselho. Assim fica evidente porque Deus manda tantas vezes que oremos: seu propósito no mundo é ser exaltado por sua misericórdia. A oração é o antídoto para a doença da autoconfiança, que se opõe ao objetivo de Deus de obter glória ao trabalhar por aqueles que esperam nele.
"Quanto ao Senhor, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele" (2Cr 16.9). Deus não está à procura de pessoas que trabalhem para ele, tanto quanto está à procura de pessoas que o deixem trabalhar por elas. O evangelho não é um anúncio de Precisa-se de Ajuda. O chamado para o serviço cristão também não. Pelo contrário, o evangelho nos ordena a desistir e pendurar um anúncio de Precisa-se de Ajuda (esse é o sentido básico da oração). Assim então o evangelho promete que Deus trabalhará por nós. Ele não transferirá a glória de ser o Doador.
Mas, será que não existe alguma coisa que podemos lhe dar, que não o rebaixe à condição de beneficiário? Sim, há — nossas ansiedades. É uma ordem: "Lançai sobre ele toda a vossa ansiedade" (lPe 5.7). Deus receberá com prazer qualquer coisa de nossa parte que mostre nossa dependência e sua total suficiência. 

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