quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O QUE É SER PRESBITERIANO

  O QUE É SER PRESBITERIANO DE FATO NO PRESBITERIANISMO
                                             Prof. João Ricardo Ferreira de França.
Introdução: o que é o presbiterianismo? O que é uma Igreja Presbiteriana? Por que sou presbiteriano? Será que sou presbiteriano? O que é ser presbiteriano? Estas são as perguntas que precisamos responder para começarmos a entender a nossa igreja, a nossa doutrina e a nossa liturgia.
            É triste notar que muitos membros de nossas igrejas não conhecem o tesouro que possuem; e asssim, acham que o cobre reluz mais que o ouro. O presbiterianismo é um ramo do cristianismo que tem muito a nos oferecer no entendimento correto das Escrituras. O presbiterianismo é “uma forma diferenciada de cristianismo”[1], esta é uma declaração inegável a ponto de um pastor tecer palavras similares ao dizer: “Quem conhece o presbiterianismo, não sai dele”[2].
            Conheço muitas pessoas que são presbiterianas desde a sua infância - são presbiterianos por tradição. Comheço outras que se tornaram presbiterianas - saíram de suas igrejas e vieram para a Igreja Presbiteriana; o curioso é que muitas vieram por questões de doutrina, outros por afinidade, outros por julgarem ser esta  a igreja dos intelectuais e coisas do tipo. Todavia, existe um terceiro grupo de pessoas que são presbiterianas que são aquelas que foram convertidas através da pregação de algum pastor presbiteriano e decideram fazer parte desta igreja. Em qual tipo de pessoa voce se encaixa? Deixe-me ajudá-lo a saber que tipo de presbiteriano você é!
I - O QUE SIGNIFICA SER PRESBITERIANO:
            Depois de olharmos negativamente a questão, vejamos ela de forma positiva, ou seja, o que de fato significa ser presbiteriano?
2.1 - Compreender e aceitar o governo da Igreja.
            Você já se perguntou porque a Igreja se chama presbiteriana? A resposta está ligada a quem dirige e governa a Igreja. Alguém já deve ter perguntado a você “quem manda na sua igreja?” E talvez a resposta que tenha saído de sua boca tenha sido “o pastor”, mas esta resposta não toda a verdade. A questão que lidamos é quem deve governar a Igreja. Três propostas são oferecidas pela história da Igreja:
1 - O Bispo = o Sistema Episcopal diz que o bispo que não é eleito pela igreja deve ter a primazia nas decisões referentes a Igreja.
1        - O povo = O sistema Congregacional ou Independente todo o povo governa e manda na igreja.
2        -  Os Presbíteros = O sistema presbiteriano diz que alguns governam sobre todos.
O sistema episcopal diz que o bispo e maior que o presbítero, todavia, a Escritura nos ensina que essa distinção não é verdadeira: Atos. 20.17,28.
Note: De mileto mandou chamar os “Presbíteros de Éfeso” (vs.17) - observem o termo plural na Igreja local deve haver mais de um presbítero; esses presbíteros são chamados de bispos(supervisores) e que possuem a função de pastorear o rebanho de Deus (vs.28).
A)    A Igreja do Novo Testamento era governada por presíteros (Atos 11.30).
B)    A Igreja do Novo Testamento promovia eleição de vários presbíteros para uma mesma igreja (Atos 14.23)
C)    Problemas em uma igreja local deveria ser resolvido em concílio de presbíteros (Atos 15.2,4,6,22,23)
D)    As decisões destes presbíteros devem ser acatadas (Atos.16.4).
E)     Existem dois tipos de presbíteros: 1) os regentes; 2) os docentes (1 Timóteo 5.17).
2.2 - Compreender e aceitar a doutrina da Igreja.
            A nossa doutrina é um dos pontos que mais nos cativam dentrod da igreja presbiteriana. O nosso sistema de doutrinas é conhecido na história como sistema reformado de doutrinas ou Calvinismo.
            A igreja presbiteriana é uma igreja reformada que nasceu na reforma protestante na cidade genebra e na Escócia. Em Genebra o seu líder foi João Calvino e na Escócia o seu líder foi João Knox. Posteriormente a doutrina da Igreja Presbiteriana ficou conhecida como Teologia Reformada  ou Teologia Calvista.  Que podem ser estruturadas em cinco pontos. Nós iremos ver um após o outro.
II - O PRESBITERIANISMO E TOTAL DEPREVAÇÃO DO HOMEM - O PRIMEIRO PONTO DO CALVINISMO.
2.1  o que significa a depravação total do homem?
A nossa Confissão de Fé declara o seguinte:
“II. Por este pecado eles decaíram da sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma.  IV. Desta corrupção original pela qual ficamos totalmente indispostos, adversos a todo o bem e inteiramente inclinados a todo o mal, é que procedem todas as transgressões atuais. ”[3]
Esta depravação inclui todo  o ser humano seu coração tornou-se maligno, perverso e incapaz de fazer o bem para a sua salvação.
2.2  A Depravação Total segundo a Bíblia:
Nós como crentes bíblicos ensinamos que o homem não possui livre-arbítrio. Há igrejas que defendem que o homem é livre para escolher ir para o céu; todavia, a Bíblia nos ensina algo totalmente contrário a isso. Vejamos:
1)      Desde a queda de Adão no Eden o homem possui uma natureza pecaminosa e morreu em seus pecados, por isso, é incapaz de fazer o que é bom. A Bíblia ensina de forma clara: Gn.2.17 - “no dia em comerdes certamente morrerás” um morto tem vontade livre? Pode escolher alguma coisa?. Agora observe o texto de Efésios 2.1-3: este texto nos mostra que o pecador  está “morto em delitos e pecados” , sendo “objeto da ira de Deus”  que precisa ser  vivificado por Deus, e isso só ocorre pela graça soberana do Senhor (vs.8-10). Seguindo para o salmo 51.5 e 58.3 vemos o que é o homem desde o ventre materno; o homem precisa ser nascido do alto - dos céus (João 3.1,3) porque encontra-se morto em seus pecados.
2)      Sendo decaídos, o coração e a mente  do homem são pecaminosos: O profeta Jeremias declara isso de forma clara no capítulo 17.9. Aqui vemos que o coração do homem é “desesperadamente corrupto” é enganoso e completamente corrompido pelo pecado. Ninguém pode sondar a si mesmo, a menos que Deus o faça soberanamente (vs.10). Em Efésios 4.17-19  somos introduzidos ao conceito de que a queda e o pecado afeteram todas as constituições do homem sua mente e seu coração estão entenebrecidos.
3)      Esta depravação torna o homem em escravo do pecado: Jesus declarou isso de forma categorica em Jo.8.34,44; em 2 Timóteo  2.25-26 temos uma descrição desta prisão que homem tem em pecado, ele não possui nenhum livre-arbítrio para se libertar do pecado que sempre está em sua natureza.
4)      Os homens em pecados entregues a si mesmos são incapazes de fazer o bem, logo o vontade livre é uma ilusão: O profeta Jeremias diz exatamente isso em 13.23 e Mateus ensina que homem não pode mudar sua própria natureza no capítulo 7.16-18.


[1] NASCIMENTO, Adão Carlos & MATOS, Alderi Souza. O que Todo Presbiteriano Inteligente deve saber. São Paulo: Socep, 2001, p.8.
[2] Idem.
[3] Confissão de Fé de Westminster , Capítulo 6, seções 2 e 4.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A Humanidade antes da Queda – R. C. Sproul


Agostinho afirmou que a humanidade, como originalmente criada por Deus, era boa e justa. A vontade do homem era tanto livre quanto boa, servindo a Deus com disposição e grande satisfação. NoThe City of God, Agostinho diz: "A vontade, assim, é verdadeiramente livre quando não é escrava de vícios e pecados. Assim nos foi dada por Deus; e tendo sido perdida pelo próprio erro, só pode ser restaurada através daquele que foi capa/ de dá-la em primeiro lugar."

Na criação, disse Agostinho, o homem tinha a posse peccare (capacidade para pecar), e a posse non peccare (capacidade para não pecar). Mesmo neste estado, a assistência divina estava disponível para ele. A "primeira graça" da qual Agostinho fala é a da chamada adjulonum. Esta assistência graciosa capacitava Adão a continuar em seu estado original, mas não o compelia a perseverar nele. Adão tinha a posse non peccare (capacidade para não pecar) mas não a non posse peccare (incapacidade para pecar).

Estas distinções a respeito da capacidade moral da criatura são cruciais para o entendimento da visão de Agostinho do homem na criação. Deus possui a non posse peccare-. Isto é, para Deus não é possível pecar. Deus não é apenas perfeito em sua bondade c justiça, mas ele é também imutável. A criatura não foi criada imutável. Ela pode e passa por mudanças. No céu, em nosso estado glorificado, seremos dotados com a non posse peccare. Em nosso estado glorificado, seremos proferidos não apenas sem pecados mas também incapazes de pecar. Mas nossa incapacidade futura para o pecado não se dará porque Deus nos fará divinos mas porque ele nos preservará em um estado de perfeição. Com relação a isto, o céu não será simplesmente uma questão de Paraíso recuperado. O céu será um lugar melhor do que aquele que Adão gozou no Eden antes da queda.
Na criação, Adão tinha a possibilidade mas não a necessidade de pecar. Agostinho argumenta que o homem não apenas tinha a capacidade para não pecar como tinha a capacidade para agir assim facilmente. Em vez disso, ele violou o comando de Deus e experimentou a horrível queda. Agostinho aponta o orgulho como a causa da queda:

Nossos primeiros pais caíram em desobediência aberta porque já eram secretamente corruptos; porque o ato mau nunca [teria] sido feito não tivesse uma vontade má o precedido.  Qual é a origem de nosso mal a não ser o orgulho? Porque "o orgulho é o início do pecado" [Ecckts. 10.13], E o que é o orgulho senão o desejo por exaltação imprópria? E isto é exaltação imprópria, quando a alma abandona aquele a quem deve se apegar como seu fim e se torna um tipo de fim em si mesma. Isto acontece quando ela se torna sua própria satisfação...Esta queda é espontânea; porque se a vontade tivesse permanecido fixa no amor daquele bem maior e imutável pela qual foi iluminada para a inteligência e incitada para o amor, não teria se afastado para encontrar satisfação em si mesma...o ato mau, então- isto é, a transgressão de comer o fruto proibido- foi cometido por pessoas que já eram más.

Agostinho não explica a queda tanto quanto a descreve. Ele identifica a causa da primeira transgressão como tendo sido o orgulho. Mas reconhece que a presença do orgulho já é mal. Ele não recua da declaração de que o primeiro pecado real foi cometido por criaturas que já tinham caído. Eles caíram antes de comerem o fruto.

Quando Agostinho diz que a queda foi "espontânea." ele descreve o problema mas não o explica. Como uma criatura que não tinha inclinação prévia para o mal, súbita e espontaneamente se tornou tão inclinada? Este é o grande enigma da queda, e permanece como a questão mais difícil que continuamos a encarar sobre este evento.

A queda de Adão afetou a sua natureza moral. Mas não apenas a sua. Também afetou a de toda a sua descendência. Aqui vemos a diferença aguda entre Pelágio e Agostinho. Pelágio insistiu que o pecado de Adão havia afetado apenas e si mesmo e não foi transmitido para seus descendentes exceto como exemplo. Agostinho argumentou que o pecado original, porquanto passa para a descendência de Adão, é, em si mesmo, um castigo para o pecado. Todos os homens estavam embrionários em Adão quando ele foi condenado. Todos os que estavam "em Adão" foram subseqüentemente punidos com ele.

Agostinho, seguindo ao apóstolo Paulo, vê um elo entre o pecado e a morte. Todos os homens morrem porque todos tem pecado. Na criação, Adão foi feito com a posse mori e a posse non mori. Isto refere-se à capacidade para morrer e para não morrer. Adão não foi feito intrinsecamente imortal. Ele continuaria a viver apenas enquanto se refreasse do pecado. Ele poderia ou não morrer dependendo da sua resposta ao comando de Deus. Depois da queda, a morte entrou no mundo e todos os descendentes de Adão foram colocados sob a sua maldição. Parte do pecado original é que o homem caído agora tem a non posse non mori (incapacidade para não morrer). Os casos especiais de Enoque e Elias são exceções tornadas possíveis pela graça especial dada por Deus.

Agostinho tinha uma forte visão da solidariedade corporativa da raça humana com Adão. Ele pressupôs uma unidade orgânica da raça, baseado no ensino de Paulo. No The Enchiridion, Agostinho cita Romanos 5: ."..como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Rm 5.12). Por "mundo" Paulo refere-se aqui, naturalmente, à toda a raça humana.

Vemos, então, o contraste rigoroso entre o pensamento, neste ponto, de Agostinho e o de Pelágio e seus seguidores. De acordo com Pelágio, Adão agiu como ura indivíduo e as conseqüências da sua ação atingiram somente a si mesmo. Para Agostinho, Adão agiu não como um indivíduo solitário, mas como um representante da raça humana. Ele agiu de modo vicário pela humanidade natural de uma forma análoga à obra vicária de Cristo para redimir a humanidade. Agostinho escreve:

Porque estávamos todos naquele homem, desde que todos nós éramos aquele homem que caiu em pecado através da mulher que foi feita para ele antes do pecado. Porque ainda não havia a forma particular criada e distribuída a nós na qual, como indivíduos, deveríamos viver mas a natureza germinal, da qual deveríamos ser propagados, estava lá; e isto tendo sido corrompido pelo pecado e amarrado pela cadeia da morte, justamente condenado, o homem não poderia nascer de outro homem em qualquer outro estado. E assim, do mau uso do livre arbítrio, originou-se toda a série do mal, da qual, com o seu encadeamento de misérias, escolta a raça humana da sua origem depravada, como de uma raiz corrupta, para a destruição da segunda morte, a que não tem fim, exceção feita para aqueles que são libertos pela graça de Deus.

Este conceito é fundamental para o pensamento de Agostinho, servindo como base para toda a doutrina da graça. Desde a queda e subseqüente ruína da humanidade, só a graça de Deus pode ter eficácia para a redenção do homem.

Fonte: [Ortopraxia]

Jesus Ensina o “Calvinismo Extremado” - James R. White


Se crer que o homem está “tão morto” [1] no pecado que ele é incapaz de vir a Cristo por si mesmo é “Calvinismo extremado”, então, o Senhor Jesus antecedeu em 1500 anos a Calvino com a Sua pregação na sinagoga em Cafarnaum, registrada em João 6. Aqui temos o Senhor ensinando quase tudo o que Norman Geisler identifica como “Calvinismo extremado”. Jesus ensina que Deus é soberano e age independentemente das "livres escolhas" dos homens. Ele, da mesma forma, ensina que o homem é incapaz de ter a fé salvadora, aparte da capacitação do Pai. Ele então limita este trazer [do Pai, João 6:44] aos mesmos indivíduos dados pelo Pai ao Filho. Ele então ensina a graça irresistível sobre os eleitos (não sobre os “dispostos”) quando Ele afirma que todos aqueles que são dados a Ele, virão a Ele. João 6:37-45 é a mais clara exposição na Bíblia do que EML [Eleitos, Mas Livres] chama de “Calvinismo extremado”. E ainda, EML ignora a maioria das passagens, oferece uma resposta ao versículo 44 que é simplesmente incompreensível, e oferece uma sentença em resposta ao versículo 45. Já vimos que João 6:37 é citado algumas vezes, mas nenhuma interpretação dele é oferecida.

Há uma boa razão porque EML tropeça neste ponto: não há nenhuma exegese não-reformada significante disponível sobre a passagem avaliada. Não obstante as inúmeras tentativas dos exegetas Arminianos de encontrar alguma solução para esses versículos, nem mesmo uma única solução plausível tem sido oferecida que não requeira uma completa desmantelação do texto, uma redefinição das palavras ou uma inserção de conceitos extremamente estranhos. Uma coisa é absolutamente certa: Jesus ensinou a completa soberania da graça às pessoas que estavam reunidas na sinagoga de Cafarnaum, há aproximadamente dois milênios. Se desejarmos honrar a Sua verdade, não podemos fazer menos do que disso.



Ouçamos Jesus ensinar o “Calvinismo extremado” quase 1500 anos antes de Calvino nascer, nas palavras do evangelho de João.


João 6:37-40

Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.

A despeito da riqueza dessa passagem, um esforço honesto será feito para que sejamos breve no comentário fornecido. [2] O cenário é importante: Jesus fala a uma multidão reunida na sinagoga de Cafarnaum. Eles tinham seguido-O após a alimentação dos cinco mil no dia anterior. Eles estavam buscando mais milagres, e mais alimento. Jesus não saciou as suas "necessidades físicas", mas foi diretamente ao assunto real: quem Ele era e como Ele é o centro da obra de redenção de Deus. Ele identifica-se como o "Pão da Vida" (v. 35), a fonte de todo alimento espiritual. Em nosso cenário moderno, podemos não sentir a força de Suas palavras como eles devem ter sentido naquela manhã. "Quem é este homem para falar dessa forma de Si mesmo?", eles devem ter pensado. Nem mesmo os maiores profetas de Israel instruíram as pessoas a ter fé neles mesmos ! Nem mesmo um Abraão ou um Isaías desejaria reivindicar ter descido do céu, nem jamais diriam "aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede". Devemos tentar sentir o impacto impetuoso dessas palavras à medida que elas foram faladas.

O bendito Senhor foi totalmente duro com a Sua audiência. Ele sabia que eles não possuíam uma fé verdadeira. "Mas como já vos disse, vós me tendes visto, e contudo não credes" (v. 36). Eles tinham visto-O com os seus olhos, mas a menos que a visão física seja unida com a iluminação espiritual, ela não será de proveito algum. Freqüentemente a importância dessa declaração é negligenciada. O verso 36 é um ponto crítico no capítulo. Jesus agora explica a incredulidade deles. Como é que esses homens poderiam estar diante do próprio Filho de Deus, o Verbo feito carne, e não crer? Qualquer pessoa que não toma seriamente a morte do homem no pecado deveria contemplar essa cena. O próprio Criador em forma humana está diante de homens que eram bem versados nas Escrituras e aponta para a incredulidade deles. Ele então explica o porque e, todavia, pouquíssimos hoje ouvirão e crerão.

“Todo o que o Pai me dá virá a mim”. Essas são as primeiras palavras que vieram do Senhor na explicação da incredulidade do homem. Não ousamos nos engajar na brincadeira de amarelinha em cima desse texto e ignorar a própria ordem do ensino que Ele provê. A primeira afirmativa é uma da completa soberania divina. Cada palavra diz muita coisa.

“Todo o que o Pai me dá”. O Pai dá alguns a Cristo. Os eleitos são vistos como um todo singular [3] , dados pelo Pai ao Filho [4] . O Pai tem o direto de dar uma pessoa ao Filho. Ele é o soberano Rei, e esta é uma transação divina.

Todos os que são dados pelo Pai ao Filho vêm ao Filho. Não alguns, não muitos, mas todos.

Todos aqueles dados pelo Pai ao Filho virão ao Filho. É vital ver a verdade que é comunicada por essa frase: o ato do Pai dar ao Filho precede e determina a vinda da pessoa a Cristo. A ação de dar pelo Pai vem antes da ação de vir a Cristo pelo indivíduo. E visto que todos daqueles assim dados virão infalivelmente , temos aqui tanto a eleição condicional bem como a graça irresistível, e isto no espaço de nove palavras! Torna-se um óbvio exercício na eisegesis [interpretação pessoal de um texto (especialmente da Bíblia), usando suas próprias idéias; não confundir com exegese] dizer: "Bem, o que o Senhor realmente quis dizer é que todos que o Pai viu que creriam em Cristo, virão a Cristo". Esta é uma declaração sem sentido. Visto que o ato de vir é dependente da ação de dar , podemos ver que simplesmente não é exegeticamente possível dizer que não podemos determinar a relação entre as duas ações. O ato de dar de Deus resulta no vir do homem. A salvação é do Senhor.

Mas note também que é para o Filho que eles virão.  Eles não virão para um sistema religioso. Eles virão a Cristo. Esse é um relacionamento pessoal, uma fé pessoal, e, visto que aqueles que vêm são descritos através de toda a passagem pelo particípio do tempo passivo, ela não é apenas uma vinda que acontece uma só vez. Essa é uma fé contínua, um olhar contínuo para Cristo como a fonte da vida espiritual. Os homens a quem o Senhor estavam falando "vieram" a Ele por um tempo: em breve eles O deixariam e não O seguiriam mais. O verdadeiro crente está vindo a Cristo sempre. Essa é a natureza da fé salvadora.

“E o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. O verdadeiro crente, aquele que "vem" a Cristo, tem essa promessa do Senhor: usando a forma mais forte de negação possível [5] , Jesus afirma a eterna segurança do crente. Jesus é Aquele que dá vida e levanta os Seus no último dia. Ele promete que não há qualquer possibilidade de que alguém que esteja vindo a Ele em verdadeira fé possa encontrá-Lo indisposto para salvá-lo. Mas essa tremenda promessa é a segunda metade de uma sentença . Ela é baseada sobre a verdade que foi primeiramente proclamada. Essa promessa é para aqueles que são dados pelo Pai ao Filho e a ninguém mais . Certamente, veremos no versículo 44 que ninguém senão aqueles que são assim dados, virão a Cristo em fé de qualquer jeito: mas há certamente aqueles que, como muitos daquela audiência em Cafarnaum, estão dispostos a seguir por um tempo , dispostos a crer por um tempo. Essa promessa não é deles.

A promessa aos eleitos, contudo, não pode ser mais preciosa. Visto que Cristo é capaz de salvar perfeitamente (Ele não depende da vontade ou da cooperação do homem), Sua promessa significa que o eleito jamais pode se perder. Visto que Ele não lançará fora, e que não há poder maior do que o Seu, aquele que vem a Cristo encontrará nEle um Salvador todo-suficiente e perfeito. Essa é a única base da "segurança eterna" ou da perseverança dos santos: eles olham para um Salvador que é capaz de salvar. E a capacidade de Cristo para salvar que significa que o redimido não pode se perder. De fato, se houvesse uma relação sinergística, não poderia haver nenhum fundamento para uma absoluta confiança e segurança.

Muitos param no verso 37 e perdem a tremenda revelação que somos privilegiados de receber nos versos seguintes. Por que Cristo nunca lançará fora aqueles que vêm a Ele? O verso 38 começa com uma conjunção que indica uma continuação do pensamento: o verso 38 e 39 explicam o verso 37. Cristo guarda todos aquele que vem a Ele porque Ele está cumprindo a vontade do Pai. “Eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. O Messias divino sempre faz a vontade do Pai. O capítulo precedente no Evangelho de João deixa isto muito claro. Há perfeita harmonia entre a obra do Pai e a do Filho.

E qual é a vontade do Pai para o Filho? Em termos simples, a vontade do Pai é que o Filho salve perfeitamente . “ E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia”. É vital lembrar que isso continua a explicação do porque Ele não lança fora aquele que vem a Ele. Devemos ver isso, pois alguém pode ser tentado a dizer que o Pai confiou todas as coisas nas mãos do Filho, e que essa passagem não está dizendo nada mais de que o Filho agirá de forma apropriada com respeito àqueles que o Pai Lhe deu. Mas o contexto é claro: o verso 37 fala do pai "dando" os eleitos ao Filho, e o verso 39 continua o mesmo pensamento. Aqueles que são dados, infalivelmente virão ao Filho no verso 3, e são esses mesmos, os eleitos [6] , que são ressuscitados no último dia.  Ressurreição é uma obra de Cristo, e nessa passagem, é comparada com o doar da vida eterna (veja v. 40). Cristo dá vida eterna a todos aqueles que são dados a Ele e que, como resultado, vêm a Ele.

Devemos perguntar ao Arminiano que promove a idéia de que uma pessoa verdadeiramente salva pode se perder: isto não significa que Cristo pode falhar em fazer a vontade do Pai? Se a vontade do Pai para o Filho é que Ele não perca nenhum daqueles que Lhe foram dados, não se segue inexoravelmente que Cristo é capaz de realizar a vontade do Pai? E isto não nos força a crer que o Filho é capaz de salvar sem a introdução da vontade do homem como autoridade final no assunto ? Pode algum sinergista (alguém que ensina, como o Dr. Geisler o faz, que a graça de Deus opera "sinergisticamente" e que o livre-arbítrio do homem é uma parte vitalmente importante do processo da salvação, e que nenhum homem é salvo a menos que esse homem deseje isso) crer nessas palavras? Pode alguém que diz que Deus tenta salvar tantos quantos "possível", mas não pode salvar ninguém sem a cooperação do homem, crer no que esse verso ensina? Não é a vontade do Pai que Cristo tente salvar, mas que Ele salve perfeitamente um povo particular . Ele não perderá nenhum de todos aqueles que o Pai lhe deu. Como pode ser isso se, na verdade, a decisão final descansa com o homem, e não com Deus? É a vontade do Pai que resulta na ressurreição para a vida de qualquer indivíduo. Isso é eleição nos mais fortes termos, e ela é ensinada com clareza nas Escrituras.

O verso 39 começa com “A vontade daquele que me enviou é esta”, e o verso 40 faz o mesmo: “A vontade do Pai que me enviou é esta”. Mas no verso 39 temos a vontade do Pai para o Filho.  Agora temos a vontade do Pai para o eleito. “Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”. Espantosamente, arrancam esse texto fora do seu contexto, se equivocam com a referência ao "todo aquele que vê...todo aquele que crê nEle", e dizem, "Veja, não há eleição divina aqui! Qualquer um pode fazer isso!". Mas é óbvio que, quando o texto é tomado como um todo, esta não é a intenção da passagem.  Quem é aquele que "vê" o Filho e "crê" nEle? Ambos os termos estão no presente particípio, referindo-se a uma ação contínua, da mesma forma como vimos na "vinda de alguém" a Cristo no verso 37. Jesus ressuscitará no último dia todos aqueles que Lhe foram dados (v. 39) e todos aqueles que estão olhando e crendo nEle (v. 40). Devemos crer que há grupos diferentes? Certamente que não. Jesus ressuscita somente um grupo para a vida eterna. Mas visto que isso é assim, não se segue que todos aqueles dados a Ele olharão para Ele e crerão nEle? Mais do que certo que sim. A fé salvadora, então, é exercida por todos aqueles dados ao Filho pelo Pai (uma das razões pelas quais, como veremos, a Bíblia afirma claramente que a fé salvadora é um dom de Deus).


João 6:41-45

Murmuravam, pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu; e perguntavam: Não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz agora: Desci do céu? Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós. Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim.

Os judeus estavam murmurando por causa desse ponto no discurso: eles rejeitaram a Sua reivindicação de origem divina, assumindo em vez disso que Ele era apenas um mero homem, o filho de José. Jesus não se desvia de Sua apresentação por causa dos pensamentos e confusão vagueadoras deles. Ele os instrui a parar de murmurar (v. 43) e então explica a incredulidade persistente deles.

“Ninguém pode vir a mim”. Literalmente Jesus diz: "Nenhum homem é capaz de vir a mim". Essas são palavras de incapacidade e elas são colocadas num contexto universal. Todos os homens compartilham isso em comum: eles são carentes da capacidade de vir a Cristo em e de si mesmos. A incapacidade compartilhada é devido a uma natureza caída compartilhada. Isto é o "morto em pecado" (Efésios 2:1) e i "incapaz de agradar a Deus" (Romanos 8:8) de Paulo. É a doutrina Reformada da depravação total: a incapacidade do homem ensinada pelo Senhor que conhece os corações de todos os homens. Se o texto terminasse aqui, não haveria nenhuma esperança, nenhuma boas novas. Mas ele não pára aqui.

"Ninguém pode vir a mim, a menos que o Pai que Me enviou, o traga" [versão do autor - New American Standard Version]. As boas novas é que há um "a menos" em João 6:44, assim como há um "Mas Deus" em Efésios 2:4. Em ambos os casos não é o livre-arbítrio do homem que vem para salvar, mas o livre-arbítrio de Deus. Todos os homens seriam deixados numa posição sem esperança de "incapacidade para vir" a menos que Deus aja, e Ele o faz trazendo os homens a Cristo. Fora desta capacitação divina (conforme 6:65) nenhum homem pode vir a Cristo. Nenhum homem pode "querer" vir a Cristo fora desse trazer divino.

Certamente, a resposta imediata de muitos é, "Sim, deveras, Deus deve prover algum tipo de graça preveniente, algum tipo de trazer, antes que alguém possa escolher crer". Mas é isto o que o texto está dizendo? Lembre-se que essas palavras vêm imediatamente após a afirmação de que todos que o Pai dá ao Filho, virão ao Filho (v. 37). Os eruditos Reformados afirmam que aqueles que são trazidos são aqueles que são dados pelo Pai ao Filho: isto é, os eleitos. Eles apontam para o contexto imediato que identifica aqueles que vêm a Cristo como os eleitos. Mas o resto do versículo 44 explica porque isso deve ser assim: "e Eu o ressuscitarei no último dia". Quem Jesus ressuscitará no último dia? O verso 39 diz que Ele ressuscitará todos aqueles dados a Ele pelo Pai; o verso 40 diz que Ele ressuscitará todos aqueles que estão olhando e crendo nEle; o verso 44 diz que Ele ressuscitará todos aqueles que são trazidos pelo Pai. A identidade daqueles ressuscitados no último dia para a vida eterna é absolutamente co-extensiva com a identidade daqueles que são trazidos! Se uma pessoa é trazida, ela será também ressuscitada para a vida eterna. Obviamente, então, não pode ser afirmado que Cristo, neste contexto, está dizendo que o Pai está trazendo todo ser humano em particular, porque 1) o contexto limita isto àqueles dados pelo Pai ao Filho, 2) esta passagem ainda está explicando a incredulidade dos Judeus, a qual não teria nenhum sentido s e de fato o Pai está trazendo esses incrédulos a Jesus, e 2) se assim fosse, o universalismo seria o resultado, porque todos que são trazidos são da mesma forma ressuscitados no último dia.

João Calvino é admitido, até mesmo por seus inimigos, ter sido um tremendo exegeta das Escrituras. Claros e criteriosos, os comentários de Calvino continuam a ter nesses dias grande utilidade e benefício para o estudante das Escrituras. Aqui está seu comentário sobre João 6:44:

Vir a Cristo sendo aqui usado metaforicamente para crer, o Evangelista, a fim de colocar a metáfora na cláusula adequada, diz que as pessoas que são trazidas são aquelas cujos entendimentos Deus iluminou e cujos corações Ele dirigiu e transformou à obediência de Cristo. A declaração se resume nisto: que não devemos nos maravilhar se muitos recusam abraçar o Evangelho; porque nenhum homem jamais será de si mesmo capaz de vir a Cristo, mas Deus deve primeiro trazê-lo pelo Seu Espírito; e, portanto, segue-se que nem todos são trazidos, mas que Deus concede essa graça àqueles que Ele elegeu. É verdade, todavia, com respeito ao tipo desse trazer, que ele não é violento, de forma que compele os homens por uma força externa; mas ainda é um impulso poderoso do Espírito Santo, que faz com que os homens que anteriormente eram indispostos e relutantes, sejam dispostos. É uma falsa e profana afirmação, portanto, dizer que ninguém é trazido, senão aqueles que estão dispostos a serem trazidos, como se o homem por si mesmo se fizesse obediente a Deus por seus próprios esforços; porque a disposição com a qual os homens seguem a Deus é o que eles já tinham por si mesmos, que foi formada em seus corações para obedecê-Lo". [7]

Jesus continua esse pensamento no verso 45, citando uma profecia de Isaías, e diz: “Todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim”. Ouvir e aprender do Pai é paralelo com ser trazido no verso 44. Jesus usou o mesmo tipo de terminologia quando Ele ensinou que somente aqueles que "pertencem a Deus" podem ouvir Suas palavras (João 8:47).

Resumindo, então, Jesus certamente ensinou a absoluta soberania de Deus, a incapacidade do homem, a eleição incondicional de um povo para salvação, a graça eficiente de Deus que infalivelmente traz salvação aos eleitos e a perseverança final desses eleitos para a vida eterna. Esse é um dos textos chaves que apóiam a posição Reformada identificada como "Calvinismo extremado" em EML.


A Resposta de EML

Assim como com todas as outras passagens chaves (Romanos 8,9, Efésios 1 e João 6), EML não oferece nenhum exegese da passagem baseada contextualmente e cuidadosamente. Vimos na introdução que João 6:37, embora citado, nunca é discutido. Nada é dito sobre seu testemunho da eleição incondicional ou da graça irresistível. Ele é simplesmente ignorado. O livro é coberto de reivindicações de apresentar um estudo definido do assunto da soberania divina e do livre arbítrio. Tal estudo requereria uma obra extensiva sobre aquelas passagens chaves. Nada é oferecido, e o que é oferecido não é exegético em sua natureza.

Somente três argumentos são oferecidos no livro em resposta a João 6:44, e um a João 6:45. Visto que a relação ao restante da passagem não é nem mesmo mencionada, não é surpresa que as passagens não sejam analisadas exegeticamente dentro do seu contexto. De fato, pouco é dito sobre as reais palavras do texto.  Em vez disso, o significado claro é explicado fazendo-se referências a outras passagens. Comecemos com João 6:44:

Em segundo lugar, João 12:32 deixa claro que a palavra "atrair" não pode significar "graça irresistível" sobre o eleito por uma simples razão: Jesus disse: "Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim". Nenhum calvinista autêntico crê que todos os homens serão salvos. [8]

Esta é a resposta mais comum: ao invés de seguirem o curo do sermão entregue por Jesus, os Arminianos imediatamente abandonam João 6 e citam João 12:32. O significado de "atrair" [ou "trazer" - no inglês a palavra usada em João 6:44 e João 12:32 é a mesma, ou seja, "draw"], totalmente discernível a partir do texto de João 6, é lida a partir de um significado assumido em João 12. Este é um método faltoso de exegese por muitos motivos. Mas mesmo aqui, a tentativa dos Arminianos falha, porque João 12:32 não ensina o universalismo mais do que João 6:44 o faz. Note o contexto da passagem:

Ora, entre os que tinham subido a adorar na festa havia alguns gregos. Estes, pois, dirigiram-se a Felipe, que era de Betsaida da Galiléia, e rogaram-lhe, dizendo: Senhor, queríamos ver a Jesus. Felipe foi dizê-lo a André, e então André e Felipe foram dizê-lo a Jesus. (João 12:20-22)

João 12 narra os eventos finais do ministério público de Jesus. Depois desse incidente particular, o Senhor passaria um período de ministério privado aos Seus discípulos exatamente antes dEle ir a cruz. As palavras finais do ensino público do Senhor são estimuladas pela chegada dos gregos que estavam procurando Jesus. Essa importante mudança de eventos causa o ensino que se segue. Jesus está agora sendo procurado pelos não-judeus, os gentios. É quando Jesus é informado sobre isso que Ele diz, " É chegada a hora de ser glorificado o Filho do homem. "

Este, então, é o contexto que nos leva às palavras de Jesus no verso 32:

Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas para isto vim a esta hora. Pai, glorifica o teu nome. Veio, então, do céu esta voz: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei. A multidão, pois, que ali estava, e que a ouvira, dizia ter havido um trovão; outros diziam: Um anjo lhe falou. Respondeu Jesus: Não veio esta voz por minha causa, mas por causa de vós. Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. Isto dizia, significando de que modo havia de morrer. (João 12:27-33)

Há duas chaves para se entender porque o que os Arminianos entendem dessa passagem é extremamente indefensável: a primeira é que temos que ver que foi a chegada dos gregos procurando Jesus que ocasionou essas palavras. Os exegetas reformados crêem que "todos" se referem aos judeus e gentios, não a cada indivíduo particularmente, e o contexto aponta para essa direção. Mas mais devastadora para o entendimento Arminiano é uma simples questão: a cruz atrai todas as pessoas individualmente? É isso o que a Bíblia realmente ensina sobre a cruz? Certamente que não! A cruz é loucura para os gentios e uma pedra de tropeço para os judeus, como Paulo ensinou:

Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado, que é pedra de tropeço para os judeus, e loucura para os gregos, mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. (1 Coríntios 1:22-24)

Paulo conhecia essa verdade da mesma forma como Jesus a ensinou: "para os que são chamados, tanto judeus como gregos... ". Para quem Cristo é o poder e a sabedoria de Deus? Para "os chamados". O que é a pregação da cruz para aqueles que são chamados? Algo que os atrai [ou traz], ou que os repele? A resposta é óbvia. A cruz de Cristo é loucura para o mundo. Essas considerações, juntamente com o contexto imediato dos gentios procurando Cristo, deixa claro que Jesus estava dizendo que se Ele fosse levantado na crucificação, Ele traria todos os homens, judeus e gentios, para si mesmo. Isso é o mesmo que dizer que havia ovelhas que não eram daquele rebanho (João 10:16), os gentios, que se tornaram um corpo em Cristo (Efésios 2:13-16).

Finalmente, se lemos essa errante interpretação de João 12:32 apoiada em João 6:44 (e para fazer assim, requere-se algum tipo de demonstração de que a simples palavra "atrair" [trazer] deve ter o mesmo exato significado e objetos em ambos os contextos, algo que EML nem mesmo tenta provar) faremos exatamente como Geisler afirma: criaremos o universalismo, mas não porque a visão Reformada é um erro. Já temos visto que todos que são trazidos são também ressuscitados no último dia. Ao invés de usar esse argumento para derrubar o claro ensinamento de 6:44, EML deveria ver que o grupo que está sendo traído não é cada indivíduo em particular, mas os eleitos (como indicado pelo contexto),e que o resultado é deveras a visão Reformada da graça irresistível:

Em terceiro lugar, a palavra "todos" não pode significar somente alguns homens em João 12.32. Pouco antes (João 2:24,25), quando Jesus afirmou conhecer a "todos", estava claro que não se referia apenas aos eleitos. Por que, então, deveria "todos" significar "alguns" em João 12:32? Se quisesse dizer "alguns", facilmente teria feito assim. [9]

Novamente, esse tipo de argumentação é completamente falaciosa. Primeiro, João diz que Jesus "conhecia todos os homens", não apenas "todos os homens pecaminosos". Essa é simplesmente uma leitura incorreta do texto. Em segundo lugar, EML não tenta provar que a frase "todos os homens" em João 2:24 é para ser entendida como sinônimo com o uso dela em João 12:32.

Finalmente, o fato de ser atraídos por Deus estava condicionado à fé. O contexto dessa atração (6:37) é "aquele que crê" (6:35) ou "todo o que nele crer" (6:40). Os que crêem que são capacitados por Deus para ser atraídos a Jesus. Jesus acrescenta: "É por isso que eu lhes disse que ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai" (6:65). Um pouco depois, ele diz: "Se alguém decidir fazer a vontade de Deus, descobrirá se o meu ensino vem de Deus ou se falo por mim mesmo" (João 7:17). Disso fica evidente que o entendimento que possuíam do ensino de Jesus e de serem atraídos ao Pai resultam da própria livre escolha deles.

Como vimos com Romanos 9:16, é simplesmente impressionante que uma passagem que é tão diretamente contraditória à teoria Arminiana do livre-arbítrio possa ser transformada numa afirmação de "livre escolha". De todas as declarações em EML, admitimos que esta é uma das mais difíceis de entender, porque ela tem a menor conexão possível com o assunto que supostamente está tratando. Lembre-se que esse verso começa com a frase, " Ninguém pode vir a mim ", e todavia, a primeira linha da resposta é, " Finalmente, o fato de ser atraídos por Deus estava condicionado à fé. " Esta afirmação sem fundamento não tem conexão com o texto, seja qual for, e a tentativa de prová-la somente compõe o erro eisegético. Dado que esta é uma passagem vital e a resposta tão indicativa da incapacidade dos escritores Arminianos de manuseá-lo, apontaremos cada erro como ele é apresentado:

O contexto dessa atração (6:37) é "aquele que crê" (6:35) ou "todo o que nele crer" (6:40).

Realmente, a palavra "trazer" não aparece em 6:37; ao invés disso, esse verso (que não recebe resposta em EML) diz que o Pa dá um povo ao Filho, e como resultado disso, aquele povo infalivelmente, sem fracasso, vem ao Filho. Esse verso definitivamente fornece um importante elemento do contexto: um ignorado por EML. Somos informados que esse contexto é "aquele que crê" (6:35) ou "todo o que crer" (6:40). Temos visto que aqueles que crêem assim o fazem, nesse texto, porque o Pai lhes deu ao Filho. Temos visto que Jesus está explicando porque esses homens não crêem (6:36). Esses elementos contextuais são ignorados por EML. Ao invés disso, a importantíssima afirmação do livre-arbítrio é inserida na passagem sem nenhuma tentativa de prover um fundamento para assim o fazer. Mas isso é seguido com a mais impressionante de todas as afirmações em EML:

Os que crêem que são capacitados por Deus para ser atraídos a Jesus.

Para ser honesto, essa sentença não faz nenhum sentido. Ela soa como se estivesse dizendo que ser "trazido" a Deus não é salvífico: isto é, é mais parecida com um "trazer para mais perto de Deus" em devoção ou alguma coisa semelhante. Em qualquer caso, o significado certamente não tem nada a ver com o texto: obviamente, vir a Cristo é crer nEle: eles são sinônimos em João. Assim, essa passagem não está dizendo que Deus "traz" crentes para uma relação mais íntima com Cristo. Pelo contrário, ela está dizendo que ninguém é capaz de vir a Cristo em fé, a menos que seja trazido pelo Pai, e que todos que são trazidos serão ressuscitados, porque todos que o Pai dá ao Filho, virão ao Filho com fé salvadora. Esta vinda é obviamente o ato da fé salvadora, porque Jesus diz que aquele que vir a Ele, Ele não lançará fora.

Além do mais, deve ser assinalado que não há nada na passagem sobre fé acontecendo antes do ser trazido: o trazer resulta em fé. Não há nada no texto sobre Deus capacitando dos homens a serem trazidos . Deus traz, ponto. Não podemos fazer nada, senão apontar quão completamente inversa a essa interpretação é a do texto real. Mas, continuemos:

"E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai". (João 6:65)

Esta é simplesmente uma redeclaração de 6:44 com a mudança de "dado" (NASB: "lhe concedido"; como na ARC e na ARA) por "trazido". Em ambos os casos a mesma verdade está sendo apresentada.  O que é perdido na citação é o fato que Jesus "está dizendo" isto, usando o tempo perfeito, indicando que Ele estava repetindo isto. Os discípulos tinham ido embora, e Jesus explica a deserção e incredulidade da multidão da mesma forma como antes: ninguém pode vir a mim, a não ser que lhe seja concedido pelo Pai. E já temos visto que o pai concede isto aos eleitos de Deus somente .

Um pouco depois Ele diz: " Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, há de saber se a doutrina é dele, ou se eu falo por mim mesmo ". (João 7:17)

O contexto de João 7 é completamente diferente, e nenhuma tentativa é feita para explicar o porque os dois versos são relevantes um ao outro. Mas aparte disso, é evidente que a idéia é que pecadores podem "livremente" fazer a vontade de Deus. E justamente quem escolherá fazer isso? Aqueles que foram dados pelo Pai ao Filho. Aqueles que não são dos eleitos nem mesmo ouvem Suas palavras,

Disso fica evidente que o entendimento que possuíam do ensino de Jesus e de serem atraídos ao Pai resultam da própria livre-escolha deles.

Não temos idéia de como essa declaração pode ser logicamente conectada, mesmo através da mais tortuosa linha de raciocínio, com o texto que está sendo examinado. Como alguém pode partir de "ninguém pode" e chegar até "resultam da própria livre-escolha deles", não podemos dizer.  Não podemos nem mesmo imaginar o que é se quer dizer por "entendimento que possuíam". Essa é uma referência a João 6 ou João 7? "Entender ensino" e "ser trazido" são duas coisas completamente diferentes de dois contextos completamente diferentes, todavia, eles são unidos impressionantemente numa conclusão confusa que brada a palavra "eisegese".

EML falha completamente em prover uma resposta a esta gloriosa passagem que ensina a graça soberana com grande simplicidade. E dado o mau uso de outras passagens já citados (Mateus 23:37, 1 Timóteo 2:4, 2 Pedro 3:9), pode verdadeiramente ser dito que EML não tem base exegética sobre a qual se fundamentar.



NOTAS:

[1] Eleitos, Mas Livres , página 47.

[2] O leitor pode consultar minha breve obra, Trazido pelo Pai (Crowne Publications, 1991), para uma exegese mais completa desta tremenda passagem.

[3] A forma neutra é usada quando o grupo inteiro está em vista; quando cada pessoa individualmente está em vista com referência a sua resposta de fé, o masculino particípio é usado, mostrando o elemento pessoal da fé.

[4] Dois tempos são usados pelo Senhor nesta passagem: aqui o tempo presente é usado, "todo o que Pai me dá ..."No verso 39, contudo, o tempo perfeito é usado, "todos aqueles que Ele me deu..."

[5] Aqui ocorre o aoristo subjuntivo de forte negação,  "Eu nunca lançarei fora". A idéia é a negação enfática da possibilidade de um evento futuro.

[6] Jesus usa o neutro novamente para se referir aos eleitos como um grupo inteiro, embora o fato de que este grupo é formado de indivíduos seja visto em sua ressurreição para vida e na sua vinda individual a Cristo.

[7] João Calvino, Comentário sobre o Evangelho de João, A Coleção Completa de João Calvino (Ages Digital Library, 1998)

[8] Eleitos, Mas Livres , página 93.

[9] Ibid.