sábado, 31 de julho de 2010

A PREGAÇÃO BÍBLICA . H.W. Robinson


NTRODUÇÃO


“Esta é era de sermõezinhos: e sermõezinhos fazem cristãozinhos”. Essa frase dita por Michael é o diagnóstico da realidade vivida na Igreja contemporânea. Vivemos na época do vazio. A falta de conteúdo nos púlpitos nunca se fez tão visível como nos dias de hoje. Não são poucos os que dizem que estão “ungidos” por Deus, e, com a desculpa de que é o Espírito Santo quem fala, desprezam totalmente o estudo, bem como o preparo do sermão.

Talvez essa seja a razão pela quais as pessoas não vão mais a Igreja. Pregadores vazios no púlpito geram bancos vazios na Igreja. Charles Haddon Spurgeon diz que “no momento em que a igreja de Deus menospreza o púlpito, Deus a desprezará”. E sem a presença de Deus as palavras de qualquer predica, são palavras ao vento.

Pregar um sermão não é sinônimo de dizer algo, sobre algo, como Bryan Chapell corretamente lembra: “Quando encaramos pessoas reais dotadas de uma alma eterna, equilibrando-se entre o céu o inferno, a nobreza da pregação nos amedronta”. Estamos falando de Deus e sobre o destino de seu povo e como diz Paulo pesar sobre nós esta responsabilidade.

Por essa razão é necessário que todo pregador se prepare com diligência para transmitir a verdade de Deus, não só espiritualmente mais intelectualmente. Lloyd-Jones afirmava: “Posto que pregar significa comunicar a mensagem de Deus, é óbvio que isso requer certo grau de intelectualidade e habilidade”. E que “o pregador deveria ser acurado, jamais devendo afirmar alguma coisa que qualquer erudito membro da congregação possa mostrar estar errado ou baseado em informação equivocada”.

O desejo de H.W. Robinson, em a pregação Bíblica é exatamente de nos alertar da importância do preparo do pregador antes de subir ao púlpito e quais são os principais métodos que ele pode usar durante este preparo.

O texto aborda todas as partes que compõe um sermão e as principais ferramentas que o auxiliara durante o período de preparo. Uma espécie de esboço da homilética. Se você já é um pregador este resumo com as principais idéias do autor lhe fará relembrar os conceitos já esquecidos, se você não é ainda um pregador, este resumo será um manual simples, mas extremamente útil a você, no seu preparo como pregador.


A PREGAÇÃO BIBLICA


Ferramentas do Oficio


Segundo o autor a tarefa básica da homilética é levar a pensar acerca do pensar. Um homilético procura descobrir o estava na mente do autor do texto e depois, deve explicar o texto com suficiente clareza para fazer sentido para o ouvinte.

Por isso, a pregação bíblica eficaz requer compreensão, imaginação, e sensibilidade espiritual, e nenhuma destas coisas advém de meramente seguir direções. Quando uma discussão sobre o preparo de um sermão expositivo se assemelha às instruções para construir um canil, alguma coisa desandou. Edificar o sermão expositivo aproxima-se mais da edificação de catedrais do que martelar até produzir um abrigo para animais.

Para o autor, todas as coisas precisam de métodos. Embora seja necessária uma vida inteira com as Escrituras e com as pessoas para fazer exposição madura, o aprendiz precisa de ajuda específica para saber como começar. Saber como outros trabalham com a Bíblia pode ser uma ajuda bem vinda. A este conselho, cada indivíduo deve contribuir com sua própria mente, espírito e experiência, e, a partir da prática repetida no trabalho extenuante de pensar, deve desenvolver seu próprio modo de operar.

No decurso da discussão de como desenvolver um sermão expositivo, portanto, deve¬mos conservar em mente que, embora as etapas para o preparo sejam tratadas em seqüência, às vezes se misturam.


Quais são, pois, as etapas no preparo do sermão expositivo?


Escolher a passagem a ser pregada.

Antes de tudo o pregador deve-se perguntar: Acerca de que falarei? De qual passagem da Escritura tirarei meu sermão?

Essa resposta não deve ser dada a cada domingo. Para o autor este plane¬jamento para o ano inteiro. O ideal é que se pregue em serie e em assuntos que esteja dentro do contexto da congregação, pois embora toda a escritura seja proveitosa em toda a Escritura possui igual proveito para uma congre¬gação num determinado tempo. Para isso, precisa estar tão familiarizado com as necessidades da sua igreja quanto com o conteúdo de sua Bíblia.

Unidades de Pensamento

O pregador deve selecionar as passagens segundo as divisões naturais do texto (“perícope”), e não forçadas, da matéria que pretende pregar. Isto quer dizer que os textos selecionados segundo as divisões dos parágrafos (se possível do original), visto que os parágrafos delineiam is de construção do pensamento. O sermão de ser baseado normalmente em dois parágrafos, salvo quando o texto e narrativo, profético ou poético, onde pode exigir a exposição de um ou mais capítulos.

Nem toda a tradução da bíblia traz uma divisão de parágrafo e pensamentos de acordo com a do autor do texto por isso o pregador deve manter todos os esforços no sentido de dividir em parágrafos reconhecem os princípios centrais do desenvolvimento e transição do pensamento. O expositor diligente examinará a separação dos parágrafos tanto nos textos originais quanto nas traduções em português, selecionará as divisões da matéria que parecem ser de maior utilidade, e as empregará como base da sua exposição.


A Duração do Sermão

Um segundo fator na escolha do assunto da pregação diz respeito ao tempo. O ministro deve pregar seu sermão dentro de um número limitado de minutos. Ele não deve contar tudo que descobriu de uma só vez. O expositor deve também fazer seu sermão sob medida para o tempo disponível, e os cortes devem ser feitos no escritório e não no púlpito.

Por meio da experiência, o pregador sabe qual o tamanho de uma passagem que pode explicar com pormenores e também quando tem de restringir-se a uma vista geral de uma passagem ao invés de uma análise detalhada.



Exposição Tópica

Embora muitos preguem expositivamente e em serie uma ou outra ocasião devem pregar sobre tópicos. Datas especiais tais como a Páscoa, as Ações de Graças, e o Natal requerem tratamento especial. Além disto, o pastor deve pregar sobre assuntos teológicos tais como a Trindade, a reconciliação, a inspiração e autoridade das Escrituras. Ou uma questão especial que a Igreja estar vivendo.

Na exposição tópica, o pregador começa com um assunto ou problema e depois procura a passagem ou passa¬gens que dizem respeito ao mesmo. Depois de ter selecionado a passagem, no entanto, o expositor deve permitir que ela fale por si mesma. A exposição tópica enfrenta o perigo especial de que o pregador atribuirá alguma coisa a mais ao relato bíblico a fim de extrair dele um significado que não está ali, diga no sermão aquilo que nunca disse na Bíblia.


Estude sua passagem e colecione suas anotações.


O Contexto

Em primeiro lugar, o ministro deve referir qualquer passagem específica da Escritura ao livro do qual faz parte. Usualmente, exige-se que o livro seja lido várias vezes, frequen¬temente em várias traduções. O ministro pode obter uma impressão da nitidez e vitalidade. Por exemplo, à NVI, à BLH Bíblia na Linguagem de Hoje, à Bíblia Viva, ou à Bíblia de Jerusalém. Com o emprego destas traduções e outras, o expositor pode entender o contexto geral da passagem.

Colocar texto dentro do o seu contexto ajuda na exposição e entendimento do assunto. O estudante não precisa investigar sozinho. Seções introdutórias dos comentários e introduções aos livros usualmente discutem, por que um livro foi escrito, e fazem um esboço do seu conteúdo.

Não somente a passagem deve ser colocada dentro da unidade geral do livro, mas também deve ser relacionada com o contexto imediato. Para entendermos um parágrafo ou subseção devemos explicar como é desen¬volvido a partir daquilo que o antecede, e qual o seu relacionamento com aquilo que o segue. O pregador deve fazer algumas perguntas para texto: faria alguma diferença se esta passagem específica não estivesse aqui? Qual propó¬sito é estabelecido para esta passagem específica do livro? Fazer as perguntas certas é o passo essencial para achar as respostas.

Tendo colocado a passagem dentro do seu contexto, o exegeta deve passar agora a examinar seus pormenores: a estrutura, o vocabulário, e a gramática. A esta altura, algum conhecimento das línguas originais é de valor inestimável. Embora a mensagem da Escritura possa ser entendida em português, algum entendimento do hebraico ou do grego é fundamental e de grande valor.


Dicionários.

Pelo menos quatro ajudas diferentes estão disponíveis para ajudar o ministro enquan¬to examina os pormenores da sua passagem. O primeiro é dicionário onde ele pode achar definições de uma palavra. As contribuições principais dos dicionários incluem, juntamente com a definição da palavra, a identificação de algumas formas gramaticais, uma lista de passagens onde ocorre a palavra, a classificação dos seus usos em vários contextos, e algumas ilustrações que ajudam a dar detalhe realístico à palavra.

O autor cita, vários dicionários. Aqui citaremos o Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (Edições Vida Nova) editado por Colin Brown, por ser mais completo e oferece boa parte das mesmas informações que os demais oferecem juntos.

Concordâncias

Embora os léxicos definam palavras, as vezes é essencial e necessário estudar uma palavra na passagem onde foi falada ou escrita, para determinar o significado teológico e histórico da mesma, bem como relacioná-la com outras passagens bíblicas. Isso se dá através do uso de uma concordância.

Há, varias concordâncias em varias línguas e com vários objetivos, que podem inclusive ser encontrada em Bíblias de estudos. Em português, temos a Concordância Bíblica, editada pela Sociedade Bíblica do Brasil.

Gramáticas

Para o autor as palavras devem ser entendidas conforme seu uso nas frases, cláusulas e parágrafos. Um estudo da sintaxe examina como as palavras se combinam para produzir o significado, e as gramáticas nos ajudam nesse estudo. Não somente uma gramática oferece ajuda geral ao descrever como as palavras são formadas e juntadas em frases, como também aquelas que têm um índice de passagens bíblicas frequentemente oferecem discernimento de passagens específicas que estão sendo estudadas.


Estudos de Palavras

Os livros de estudo de palavras fornecem ao exegeta discernimento das palavras e da gramática e ajuda o pregador a entender a origem de muitas palavras neo-testamentárias nos seus contextos.


Dicionários Bíblicos


Segundo as muitas perguntas acerca do pano de fundo e da biografia, bem como de assuntos específicos, podem ser respondidas mediante o emprego de dicionários e enciclopédias bíblicas. Visto que as diferentes obras de referência revelam diferentes vantagens, um exame do mesmo assunto em várias enciclopédias e dicionários diferentes capacita o ministro a chegar ao equilíbrio e à integralidade.

Comentários

Para o autor, os comentários oferecem um fundo de informações acerca do significado de palavras, do pano de fundo das passagens, e do argumento do escritor. O pregador deve ter comentários sobre livros individuais da Bíblia, tirados de várias coletâneas Certamente é sábio consultar vários comentários sobre uma passagem, e compará-lo com outros, para determinar o significado, mas bíblico possível de texto. Isso é importante, pois um professor das Escrituras precisa de professores.


Outras Ferramentas


Alguns pregadores usam um bloco de notas para registrar os resultados do seu estudo individual. É necessário que estes blocos sejam organizados e as idéias que há nele sejam resumidas.



Enquanto estudar a passagem relacione as partes umas com as outras para determinar a idéia exegética e seu desenvolvimento.


A analise lingüística e gramatical nunca deve vir a ser uma finalidade em si mesma; pelo contrário, deve levar a uma compreensão mais clara da passagem como uma totalidade. Inicialmente, o exegeta lê a passagem e seu contexto em português para entender o que o autor quer dizer. Depois, através da análise, testa sua impressão inicial mediante um exame dos detalhes.

No decurso da análise e síntese, pregador precisar perguntar: "Sobre o que, exatamente, o escritor bíblico está falando?" Quando você tiver um sujeito possível, volte a ler a passagem e relacione o sujeito com os detalhes.

O Sujeito.

A aplicação destas perguntas ao sujeito ensinará pregador a ser mais exato, pois todos os pormenores no parágrafo, direta ou indiretamente, têm relacionamento com sujeito. Normalmente sujeito descreve com exatidão aquilo que o autor está falando, ilumina os pormenores da passagem, e o sujeito, por sua vez, será iluminado pêlos pormenores.

O Complemento.

Tendo isolado o sujeito, você agora deve determinar o complemento, ou os comple¬mentos, que completam o sujeito e o transformam em idéia. Ao fazer assim, o pregador deve tomar consciência da estrutura da passagem e fazer distinção entre suas partes. Normalmente, o complemento se torna claro, quando se encontra o sujeito.


Outras Formas Literárias.


O livro qualquer da Bíblia constitui apenas uma das muitas formas literárias que se acham nela. Muitas pessoas nem sequer tem consciência de que as Escrituras contem vários tipos de literatura, tais como: parábolas, poesia, provérbios, orações, discursos, alegorias, história, leis, contrato, biografia, drama, apocalíptica, e contos. Cada um deles deve ser interpretado de forma diferente. Não se interpreta poesias como se interpreta profecias.

Por isso as perguntas feitas ao texto devem variar de acordo o gênero do livro que se estar estudando para pregar.

Para o autor o pregador deve ser exato no pensamento, e declara com cuidado os relacionamentos que vê dentro do texto, quer a Bíblia explicitamente os declare, ou não. À medida que escreve a sua idéia exegética deve se encaixar nas partes da passagem. E ele completa: “Nunca force a passagem para adaptar-se à sua declaração da idéia”.

Por fim o autor diz que, a esta altura, como resultado do seu estudo, o pregador deverá saber fazer duas coisas: em primeiro lugar, declarar a idéia da passagem numa única frase que combina seu sujeito e complemento; em segundo lugar, esboçar o desenvolvimento daquela idéia a partir da passagem.


CONCLUSÃO


Dr. Martin Lloyd-Jones dizia que “a mais urgente necessidade da igreja cristã da atualidade é a pregação autêntica”. Dizer o que o texto diz é o maior desafio do pregador contemporâneo. A fidelidade ao texto não vem de outro modo se não por meio do estudo sistemático e continuo das Escrituras. Se não estudarmos o que o texto diz, vamos dizer o que pensamos que ele diz, logo estaremos dizendo o que ele não quis dizer.

Como já dissermos não são poucos os que dizem que a “unção” vem de Deus e o estudo é do homem. E para justificar usam o versículo fora do contexto e diz: “a Palavra do Senhor não volta fazia”. Esses se esquecem, como diz o Rev. Hernandes, que Deus tem Compromisso com sua Palavra e não com a palavra do pregador.

Calvino diz ainda: “O zelo dos pastores será profundamente solidificado quando forem informados de que tanto sua própria salvação quanto a de seu povo dependem de sua séria e solícita devoção ao seu ofício”.


H.W. Robinson, em a pregação Bíblica, nos faz lembrar da grande necessidade que todo pregador tem de estudar. E de forma simples, didática, sistemática e com muita clareza aborda os principais princípios de hermenêutica e homiletica e ainda mostrando quais são as principais ferramentas para o bom preparo de um sermão.

Todavia o autor foi muito sintético nos na explicação da material em sim e se preocupou mais em citar as ferramentas que explanar o assunto.


Notas:

EBY, David. Pregação Poderosa para o Crescimento da Igreja: O papel da pregação em igrejas em crescimento. São Paulo, Editora Candeia, 2001. p. 38
Ibid, idem
BRYAN, Chapell, Pregação Cristocêntrica, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002, p. 17.
LLOYD-JONES, Martin. Pregação e Pregadores. São Paulo. Editora Fiel. P. 84.
Lloyd-Jones apud EBY, David. Pregação Poderosa para o Crescimento da Igreja: O papel da pregação em igrejas em crescimento. São Paulo, Editora Candeia, 2001. p. 37
CALVINO, João. As Pastorais, São Paulo, Paracletos, 1998, p. 116.


Fonte: http://jailsonipb.blogspot.com/2008/06/resumo-pregao-bblica-hw-robinson.html

Ortodoxia Sim, Ortopraxia também.

              O termo “ortodoxia”, normalmente é empregado pelos protestantes para se referir ao sumário das doutrinas defendidas pelos Reformadores e em geral aceitas pelas Igrejas Reformadas. Ser cristão ortodoxo nos livra dos erros extremos tão visíveis no mundo contemporâneo. Todavia, não se deve esquecer que esta ortodoxia não pode ser divorciada de uma vívida ortopraxia (prática da verdade). Como seguidor de Cristo, o cristão não pode fechar os olhos para a prática que o evangelho pressupõe.

              A verdade crida e seguida deve também ser vivida e praticada. Ortodoxia bíblia e relevância sadia devem andar de mãos dadas. Estas duas verdades jamais podem ser polarizadas. O cristão não pode em razão de preservar a sua fé se esquecer de sua responsabilidade de vivê-la no mundo. O Dr. Herber Campos, diz que um dos desafios da igreja neste mundo pós-moderno é o de não se tornar um gueto. A Igreja cristã, diz ele “não deve se isolar, embora deva proteger a verdade. Ela deve aceitar o desafio de contrariar o espírito do tempo presente como uma espécie de ‘contracultura’, saindo para minar os campos alheios. Se não fizer isso, a igreja vai perder a sua verdadeira identidade”

              Segundo Abraham Kuyper, o pensamento reformado não deve ser visto apenas como um conjunto de dogmas teológicos que teve influência no meio eclesiático, mas que tem sido antes de tudo, uma filosofia de vida que tem afetado a sociedade e os indivíduo como um todo. Os cristãos foram postos no mundo para ser a consciência da sociedade, e não para se fecharem em si mesmos. A Igreja deve ser a voz do que clama no deserto, a fim de fazer a diferença no mundo. “O reino de Cristo é também externo”, dizia Zuínglio. Não podemos apenas zelar pela doutrina e pela fidelidade na Palavra de Deus, mas também evidenciá-las por meio de uma fé prática e viva. A ortodoxia deve necessariamente nos conduzir a otorpraxia. Por isso, não vamos divorciar estas duas verdades que devem andar juntas. 
Ortodoxia Sim, Ortopraxia também.

Sem. Jailson Santos

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Expiação em Cristo – Calvinismo x Arminianismo



Não nos é dito por que Deus não salva toda a humanidade quando todos são igualmente indignos, considerando que o sacrifício do Calvário foi o de uma pessoa de valor infinito, amplamente suficiente para salvar todos os homens, caso Deus assim o desejasse. Mas as Escrituras nos dizem que nem todos serão salvos. No entanto, podemos dizer que a expiação, que foi elaborada a um enorme custo para o próprio Deus, é de Sua propriedade, e que Ele tem a liberdade de usá-la de qualquer modo que Ele escolher. Nenhum homem tem direito a qualquer reivindicação de qualquer parte dela. Nos é dito repetidamente que a salvação é pela graça. E a graça é favor mostrado ao que não merece, e mesmo ao que desmerece. Se alguma parte da salvação do homem fosse devida às suas próprias boas obras, então certamente haveria uma diferença entre os homens, e aqueles que respondessem à oferta graciosa, poderiam, justificadamente, apontar o dedo desdenhosamente ao perdido e dizer: "Você teve a mesma chance que eu tive. Eu aceitei, mas você recusou. Portanto, você não tem desculpa."  Mas não. Deus organizou este sistema de tal modo que aqueles que são salvos só podem ser eternamente gratos por terem sidos salvos por Deus.

 
Não nos cabe questionar por que Deus faz como Ele faz, pois a Escritura declara:

"Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra? Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou" (Romanos 9:20-24)

Apenas o Calvinista parece levar a sério a queda do homem. Uma avaliação apropriada da queda e da atual condição perdida do homem é o elemento ausente em grande parte do pensamento, do ensino e da pregação atuais. OArminianismo erra seriamente ao supor que o homem tem capacidade suficiente para se voltar para Deus, bastando desejá-lo. O calvinista insiste que o homem não está apenas doente ou indisposto, ou que precisa apenas do incentivo correto, mas que ele está morto espiritualmente, e que a expiação de Cristo não faz da salvação uma possibilidade abstrata de tal forma que todo homem possa se voltar para Deus, caso queira. O calvinista sustenta que a expiação foi uma obra objetiva realizada na história, que removeu todas as barreiras legais contra aqueles a quem ela devia ser aplicada, e que seria seguida pela obra do Espírito Santo subjetivamente aplicando os méritos dessa expiação aos corações daqueles a quem foi divinamente destinada.

Chamamos novamente a atenção para um dos versos mais importantes nas Escrituras sobre a questão da salvação: "Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer;" (João 6:44). Outro como ele é: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora." (João 6:37). E aos cristãos de Corinto, Paulo escreveu: "Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente." (1 Coríntios 2:14).

E como é que Deus conduz os eleitos ao exercício da fé? A resposta é: Na regeneração o Espírito Santo submete o coração do homem para Si, e confere ao homem uma nova natureza que ama a justiça e odeia o pecado. Ele não força o homem contra a sua vontade, mas o faz espontaneamente e de todo o coração obediente à Sua vontade. Quando o Senhor Jesus apareceu ao endurecido e perseguidor Saulo no caminho de Damasco, ele imediatamente tornou-se obediente à vontade do Senhor. "Apresentar-se-á voluntariamente o teu povo, no dia do teu poder;", disse o salmista (Salmos 110:3). Assim, Deus dá a Seu povo a vontade de vir. Esse ato da parte de Deus na natureza subconsciente da pessoa é conhecido como regeneração, ou como um novo nascimento, ounascer de novo. Quando, assim, é dada ao homem uma nova natureza, ele reage de acordo com essa natureza, como fazem todas as criaturas de Deus. Ele, então, exerce fé e pratica as boas obras características de arrependimento tão naturalmente como a videira produz uvas. Enquanto o pecado foi o seu elemento natural, agora a santidade torna-se seu elemento natural - não de uma vez, pois ele ainda tem resquícios da velha natureza agarrados a ele, e enquanto ele permanece neste mundo, ele ainda está em um ambiente pecaminoso. Mas, como sua nova natureza está livre para expressar-se, ele cresce na justiça, se deleita em ler a Palavra de Deus, orando, e tendo comunhão com outros cristãos.

Temos então que escolher entre uma expiação de elevada eficiência, a qual é perfeitamente realizada, ou uma expiação de ampla extensão que é imperfeitamente realizada. Não podemos ter as duas. Se tivéssemos as duas, teríamos uma salvação universal. Mas o Arminiano estende a expiação tão amplamente que, no que se refere ao seu efeito real, praticamente não há qualquer valor a não ser como um exemplo de um serviço altruísta. Dr. B. B. Warfield usou uma ilustração muito simples para apresentar esta verdade. Ele disse que a expiação é como massa de pizza – quanto mais você espalha, mais fina ela torna-se. E o Arminiano, ao torná-la aplicável a todos os homens, reduz a sua eficácia a tal ponto que deixa de ser, praticamente, uma expiação em absoluto.

Além disso, por Deus ter colocado os pecados de todos os homens sobre Cristo, significa que, no que diz respeito aos perdidos, Ele estaria punindo os seus pecados duas vezesuma em Cristo, e depois novamente neles. Certamente que seria injusto. Se Cristo pagou os seus débitos, eles estão livres, e o Espírito Santo invariavelmente os levaria à fé e ao arrependimento. Se a expiação foi verdadeiramente ilimitada (universal), isso significaria que Cristo morreu por multidões cujo destino já havia sido determinado, que já estavam no inferno no momento em que Ele sofreu. Se a expiação simplesmente anulou a sentença que havia contra o homem de modo a lhe dar uma nova chance caso ele exercesse a fé e a obediência, isso significaria que Deus o estava colocando em teste novamente como foi colocado o seu antepassado Adão. Mas esse tipo de teste foi experimentado e teve seu desfecho há muito tempo, em um ambiente muito mais favorável. Levada à sua conclusão lógica, a teoria daexpiação ilimitada leva ao absurdo.

Devemos lembrar que o sofrimento de Cristo na Sua natureza humana, quando Ele permaneceu pendurado na cruz por seis horas, não foi essencialmente físico, mas mental e espiritual. Quando Ele clamou: "Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste" Ele estava literalmente sofrendo as dores do inferno. Pois isso é essencialmente o que o inferno é, a separação de Deus, a separação de tudo o que é bom e desejável. Tal sofrimento está além da nossa compreensão. Mas uma vez que ele sofreu como um pessoa divina-e-humana, Seu sofrimento foi um equivalente justo por tudo aquilo que Seu povo teria que sofrer em uma eternidade no inferno.

Na verdade, o homem redimido ganha mais através da redenção em Cristo do que ele perdeu na queda de Adão. Pois na encarnação, Deus, literalmente, entrou na raça humana e tomou sobre Si a natureza humana, natureza que Cristo, em Seu corpo glorificado, manterá para sempre, e, evidentemente, Ele será o único Deus visível que veremos no céu. Pedro nos diz que agora somos "co-participantes da natureza divina" (2 Pedro 1:4), e Paulo diz que somos "herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo;" (Rm 8:17). Pense nisso! Participantes da natureza divina, e co-herdeiros com Cristo! Que maior bênção poderia Deus conferir a nós? Como tal, somos superiores aos anjos, pois eles são designados na Escritura apenas como mensageiros de Deus, Seus servos.

Em última análise, o Arminiano é confrontado com exatamente o mesmo problema como qual é o Calvinista – aquele problema mais amplo a respeito do porque um Deus de infinita santidade e poder permite o pecado. No nosso atual estado de conhecimento, podemos dar apenas uma resposta parcial. Mas o Calvinista encara esse problema, reconhece a doutrina bíblica de que todos os homens tiveram sua oportunidade justa e favorável em Adão, de que Deus agora graciosamente salva alguns da raça caída, deixando os outros seguirem seu próprio e escolhido caminho pecaminoso e manifesta a Sua justiça em sua punição. Mas ao admitir o conceito de presciência, o Arminianismo não tem explicação quanto ao por que Deus intencionalmente e deliberadamente cria aqueles que Ele sabe que se perderão e que passarão a eternidade no inferno.

No entanto, no que diz respeito ao problema do mal, podemos dizer que Deus criou este mundo como uma arena em que Ele iria mostrar a Sua glória, Seus atributos maravilhosos para que todas as Suas criaturas vissem e admirassem - Seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade. E aqui estamos, preocupados principalmente com a Sua justiça.

A justiça de Deus exige que a bondade seja recompensada e que o pecado seja punido. E é tão necessário que o pecado seja punido quanto é necessário que a bondade seja recompensada. Deus seria injusto se não fizesse as duas coisas. Por isso, Ele criou homens e anjos não como robôs que, automaticamente, produzissem boas obras como uma máquina produz parafusos ou latas, que não merecessem quaisquer recompensas, mas os criou como agentes morais livres, em Sua própria imagem, capazes, em Adão antes da queda, de escolherem entre o bem e o mal. Ele manifesta a Sua justiça para com aqueles que Ele propôs salvar pela graça, os recompensando pelas boas obras encontradas em Cristo, o seu Salvador, e creditadas a eles, os confirmando em santidade, e os admitindo no céu. E Ele manifesta a Sua justiça para com aqueles a quem Ele propôs deixar de lado em sua disposição pela continuidade no pecado.

Da mesma forma, se o pecado tivesse sido excluído, não poderia ter havido qualquer revelação adequada dos atributos mais gloriosos de Deus: graça, misericórdia, amor e santidade, como é apresentada em Sua redenção dos pecadores. Lembremos que os anjos no céu ganharam a salvação através de umpacto de obras, mantendo a lei de Deus. Como no caso de Adão, lhes foram prometidas certas recompensas se obedecessem. Eles obedeceram, e foram confirmados em santidade. Eles não experimentaram a salvação pela graça. Há um antigo hino que diz: "Quando eu canto a história de redenção, os anjos dobram suas asas e ouvem." E assim será o contraste fundamental entre os homens e os anjos.

Daí a explicação de que Deus é quem permite o pecado, mas o controla e o governa para a Sua própria glória. Se o pecado tivesse sido excluído da criação, aqueles gloriosos atributos jamais poderiam ser adequadamente apresentados perante o Seu inteligente universo de homens e de anjos, e na sua maior parte, teriam permanecido para sempre escondidos nas profundezas da natureza divina.




quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Cálice que Jesus não Bebeu – C. H. Spurgeon




Deram-lhe a beber vinho com mirra; ele, porém, não tomou. – (Mc 15.23)


Uma verdade preciosa se revela no fato de que nosso Senhor recusou-se a beber vinho com mirra. Antecipadamente, o Filho de Deus havia voltado seu olhar para nosso mundo e avaliado a imensa descida às profundezas da miséria dos homens.

Ele somou as agonias que a expiação exigiria e não recusou nenhuma delas. Solenemente, o Filho de Deus determinou oferecer ao Pai um sacrifício expiatório suficiente. Ele tinha de seguir todo aquele caminho, desde o trono de glória até à cruz da mais profunda aflição. Esse cálice de mirra, com sua influência anestésica, teria aliviado um pouco do sofrimento de nosso Senhor; mas Ele o recusou.

O Senhor Jesus não amenizaria todo o sofrimento que deter-minara suportar em favor de seu povo. Muitos de nós temos lamentado depois de livramentos de aflições que nos teriam causados muitos danos! Você sempre ora com ansiedade petulante e obstinada, suplicando alívio de um trabalho árduo e de sofrimento? Suponha que lhe tenha sido dito: "Se você deseja, pode conservar consigo aquilo que você ama, mas Deus será desonrado por meio disso". Você poderia abandonar essa tentação e dizer: "Seja feita a tua vontade"? E agradável ser capaz de afirmar: "Meu Senhor, eu preferiria não sofrer; todavia, se posso te honrar mais por meio do sofrimento e se a perda de todas as minhas coisas terrenas trará glória para Ti, então, que o sofrer seja a minha porção.

Recuso a consolação, se esta se coloca à frente de tua honra". Oh! Que abandonemos disposta e espontaneamente o pensamento de egoísmo e de consolação quando ele interfere na concretização da obra que Deus nos deu para realizarmos!

/ On : 14:14/ SOLA SCRIPTURA - Se você crê somente naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no Evangelho que você crê,mas, sim, em si mesmo - AGOSTINHO.