segunda-feira, 30 de maio de 2011

O Perigo está dentro de nós – C. H. Spurgeon


Então, andarás seguro no teu caminho, e não tropeçará o teu pé. (Pv 3.23)

Isto significa que, se andamos no caminho da sabedoria e da santidade, seremos preservados nelas. Aquele que viaja durante o dia pelas estradas, sob a luz do sol, desfruta de certa proteção. Existe um caminho para cada pessoa, ou seja, sua própria vocação na vida. E, se seguirmos esta vocação no temor de Deus, Ele nos preservará do mal. Talvez não viajaremos em luxo, mas andaremos seguros. Provavelmente não seremos capazes de correr como os jovens, mas seremos capazes de andar como homens bons.

Nosso grande perigo se encontra em nós mesmos: nossos frágeis pés são terrivelmente propensos a tropeçar. Supliquemos a Deus mais vigor moral, para que nossa tendência ao tropeço seja vencida. Alguns tropeçam porque não vêem as pedras no caminho. A graça divina nos capacita a perceber o pecado e a evitá-lo. Reivindiquemos esta promessa e confiemos nAquele que sustenta seus eleitos.

Infelizmente, nosso grande perigo é nossa falta de cuidado; mas contra isso o Senhor nos alertou, dizendo: "Vigiai e orai" (Mt 26.41).

Oh! Oremos por graça para andarmos neste dia sem qualquer tropeço! Permanecer firme agora não é o bastante; nosso clamor deve ser que nossos pés não cometam o menor deslize e que, por fim, adorem Aquele que é poderoso para nos guardar de tropeços.

Desejar a Deus – J. I. Packer




O ensino em análise afirma que desejar e contemplar o nosso Salvador e Deus na reciprocidade do amor é a atividade mais importante e nobre da vida. No desenvolvimento desse pensamento, são feitas duas afirmações: primeira, os cristãos freqüentemente perdem a alegria deste relacionamento por sua própria negligência e preocupação com outras coisas; segunda, Deus às vezes não nos deixa sentir a sua presença e amor, que nos concede em outras ocasiões, para nos ensinar lições sobre paciência e pureza de coração que, do contrário, não aprenderíamos. Uma diversidade de abordagens foram desenvolvidas com o objetivo de articular estas verdades. Vamos observar rapidamente algumas delas.


A importância de se distanciar do que deseja o coração tem sido freqüentemente expressada em termos de retirar-se para o "deserto" de solidão, onde os desejos são purificados. O mesmo ponto foi observado no Ocidente por meio do direcionamento dos cristãos à renúncia de todas as distrações que se sobrepõem ao "cone" ou "ápice" de sua alma, e, no Oriente, mediante a exigência da "apatheia" (que não significa impassibilidade interior, mas o domínio próprio que redireciona a paixão para a busca de Deus). Agostinho, Bernardo e Thomas à Kempis, Inácio de Loyola e Francisco de Sales; e puritanos, como Richard Sibbes, Richard Baxter, Thomas Goodwin e John Owen, com muitos outros antes e depois deles, mapearam os caminhos do pensamento e da oração que separam o desejo do apelo magnético deste mundo para atrelá-lo mais firmemente a Deus, em Cristo.


Por um lado, o relacionamento entre a meditação verbal e a petição, e, por outro, a contemplação e o entregar-se pós - e não - verbal ao Senhor, a quem se conhece, confia e ama, foi explorado por mestres do "casamento espiritual", que desenvolveram a analogia da linguagem e comunhão do amor entre os sexos e a aplicaram ao relacionamento de uma pessoa com Deus. Na mesma relação, os cistercienses, franciscanos e outros enfatizaram as ligações entre a contemplação amorosa de Deus e a ação compassiva entre homens e mulheres, enquanto Jonathan Edwards, em seu livro Tratado sobre Afeição Religiosa, estabelece testes que mostram se sentimentos fortes em um contexto de devoção são ou não autenticamente espirituais (resultantes da obra do Espírito Santo no coração). Toda esta instrução procura, de qualquer forma, indicar o caminho que conduz àquela satisfação em Deus, que é o supremo valor e glória da vida.

Fonte: [Ortopraxia]

A Hora da Glória de Jesus


"Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz" (Fp 2.5-8).
Por que, afinal, Jesus seguiu esse caminho da entrega total? Por que Ele foi obediente até a morte, até a morte de cruz?
Por amor a Seu Pai no céu
A hora da Sua glória, quando exclamou na cruz "Está consumado!", a hora de triunfo e vitória do Cordeiro de Deus aconteceu em primeiro lugar para o Pai no céu. É óbvio que Jesus morreu por nós – Jesus nos redimiu – Jesus nos libertou – Jesus nos salvou. Mas, embora tudo isso seja tão belo e verdadeiro, não aconteceu primeiramente por nossa causa, e sim, por causa da vontade santa de Deus, para quem o pecado é abominação.
Pelo fato do Deus santo jamais poder tolerar pecado, Ele não viu outra alternativa do que enviar Seu próprio Filho ao mundo para fazê-lO morrer como cordeiro de sacrifício pelos pecados. Entretanto, mesmo que Jesus Cristo já tenha sido designado para ser o Cordeiro de Deus desde a fundação do mundo – porque Deus sabia como tudo havia de acontecer –, esta nunca fora a intenção original de Deus. Como sabemos disso? Por ocasião da criação do homem, Deus não incluiu a necessidade de salvação – o Calvário –, embora soubesse que o homem cairia no pecado.
Em Gênesis 1.26a e 27 lemos sobre a criação do homem: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou". Disso se deduz claramente que, por ocasião da criação do homem, Deus agiu como se nunca houvesse a queda em pecado – pois mesmo sabendo muito bem da queda que haveria de acontecer, Ele colocou dentro do homem a Sua própria e gloriosa imagem. Ao mesmo tempo precisamos saber que o Filho de Deus estava presente no ato da criação, pois está escrito no plural: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança". Podemos ver retrospectivamente o quanto Jesus se alegrou pela criação dos homens, mesmo que mais tarde tivesse que morrer por eles: "O Senhor me possuía no início de sua obra, antes de suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes do começo da terra... eu era as suas delícias, folgando perante ele em todo tempo; regozijando-me no seu mundo habitável e achando as minhas delícias com os filhos dos homens" (Pv 8.22-23; 30-31). Aqui se fala da Sabedoria em pessoa, que não é outra senão o próprio Jesus Cristo, pois dEle está escrito que "se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção" (1 Co 1.30). Jesus, que já estava com o Pai desde a eternidade, participou da criação do homem e teve, como diz a Bíblia Viva: "grande prazer no belo mundo que tinha sido criado e nas pessoas que moravam nele". Como era glorioso o Paraíso de Deus! Ali não havia pecado, nem sombra de pecado, nem qualquer perturbação. Pelo contrário. O Deus santo e eterno quis revelar-se de maneira tão concreta no homem, que colocou nele a Sua imagem. Imagine só: Deus se identificou tanto com a coroa da Sua criação, que essa criação passou a ser a imagem refletida dEle mesmo!
Contudo, para grande pesar do Criador e de todos os Seus exércitos celestiais, aconteceu: a coroa da criação, o homem, caiu em pecado. Com isso, por um tempo, toda alegria havia terminado. Pois num só golpe, a imagem de Deus que Ele havia colocado no homem foi tocada e manchada e isso lançou uma pavorosa sombra sobre o glorioso Paraíso. O que Deus teve que fazer, então?
Quando Moisés voltou do Monte Sinai com as primeiras tábuas da Lei e viu como o povo dançava de maneira auto-destrutiva e pecaminosa ao redor do bezerro de ouro, ele despedaçou as tábuas de pedra diante dos olhos do povo. Bem entendido, tratava-se das tábuas da Lei que o próprio Deus havia feito e escrito com Seu dedo, mas elas foram destruídas por causa do pecado.
Entretanto, os primeiros homens que Deus havia feito e nos quais Ele colocara a Sua imagem, que, entretanto, sujaram essa imagem santa pelo pecado, não foram destruídos. Essa teria sido a possibilidade mais simples para Deus, porque dessa maneira Ele poderia limpar a Sua própria imagem santa de qualquer contaminação e desonra. Porém, Deus não destruiu a Sua criação. Ele procurou uma possibilidade para reparar o estrago. Havia somente um único caminho:
O Calvário
É dentro dessa perspectiva que precisamos olhar outra vez essa grandiosa vitória conquistada no Calvário, a hora da glória de Jesus Cristo, que em primeiro lugar foi a hora de Seu Pai. Como já dissemos, o alvo primordial não era resgatar o homem caído, mas restabelecer a glória de Deus que fora violada! Somos tão parciais e humanos em nosso modo de pensar, que muitas vezes esquecemos essa verdade.
Naturalmente permanece o que está escrito em João 3.16: "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". Mas de que amor se trata aqui? Do grande amor do Criador para com a Sua criação que, desde a queda em pecado, jaz totalmente no maligno. Em outras palavras: trata-se daquele amor de Deus que sempre existiu. Muitas vezes falamos sobre o amor de Deus como se tivesse se tornado ativo apenas na cruz do Calvário. Mas esse é o mesmo amor pleno de Deus presente quando colocou a Sua imagem no homem por ocasião da criação. Que amor ilimitado Deus demonstrou naquela ocasião – e Seu amor nunca mudou.
Quando está escrito que "todo o que nele crê... tenha a vida eterna", não se trata de uma vida eterna que somente surgiu no Calvário, mas da vida eterna que os primeiros homens já possuíam no Paraíso e haviam perdido por causa do pecado.
Pela ressurreição de Jesus Cristo, todas as exigências de Deus foram cumpridas
Pela entrega da Sua vida na cruz do Calvário, o Senhor Jesus ofereceu o sacrifício pelo pecado original e por todos os pecados cometidos, e através desse sacrifício, o Deus santo pôde reconciliar-se com Sua criação: "a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões..." (2 Co 5.19). Mas o mais importante foi que, assim, a imagem santa de Deus que Ele colocara no homem foi resgatada. Pois cada pessoa que responde afirmativamente ao Calvário, aos olhos de Deus, é transferida de volta para o estado original da criação, porque em Jesus Cristo passa a ser justa. Em Romanos 8.1 lemos a respeito: "Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus."
Assim cada pessoa que responde afirmativamente ao Calvário está novamente de posse da vida eterna que havia sido perdida no Paraíso. A esse respeito lemos em 1 João 5.12a: "Aquele que tem o Filho, tem a vida." Por isso, pela ressurreição de Jesus Cristo dos mortos, todas as exigências do Deus santo – como selo da obra expiatória consumada no Calvário – foram cumpridas.
Penso que João Batista viu isso claramente, pois no seu testemunho público em João 1.29, ele disse acerca de Jesus: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" Ele não disse: "Eis o cordeiro do sacrifício do mundo, que leva os homens novamente a Deus", mas "Eis o Cordeiro deDeus..." E este Cordeiro de Deus tem como prioridade a vontade de Deus e Sua glória e não as necessidades de um mundo pecaminoso. Isto significa que Jesus não foi ao Calvário como o nosso Advogado, mas como Enviado e Representante do Deus santo e justo que está nos céus! Por isso está escrito em 2 Coríntios 5.19a: "a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo..." E em Romanos 3.25 lemos: "...a quem (ou seja, a Jesus) Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé..."
Não é impressionante o que Jesus fez? Para restabelecer a honra de Seu Pai, Ele fez com que todos os que crêem nEle, no Senhor crucificado, morto, ressuscitado e que voltará, tivessem novamente acesso livre a esse Pai no céu. Somos exortados a fazer uso desse acesso com toda confiança:"Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça..." (Hb 4.16a).
É tão comovente o que Romanos 8.15 diz àqueles que foram salvos pelo sangue de Jesus: "Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai". Não, nunca mais precisamos ter medo, pois Jesus restabeleceu tudo; entre nós e o Pai no céu tudo está purificado pelo sangue de Jesus. Como é glorioso agora podermos chamar nosso Pai de "Aba, Pai" outra vez, Ele que antes nem podia olhar para nós por causa dos nossos pecados! Isso encontra amparo total no Deus Eterno, que deseja que Seus filhos o chamem assim, pois está escrito em Gálatas 4.6: "E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!" Em outras palavras: àqueles que se tornaram filhos de Deus pela fé no sacrifício de Jesus Cristo no Calvário e na Sua gloriosa ressurreição, a esses o próprio Deus quer encher com o Espírito do Seu Filho para que tenham plena confiança de chamá-lO de "Aba", Pai.
Como é grandiosa a hora da glória de Jesus Cristo!
Pela Sua cruz e pela Sua ressurreição Ele restabeleceu a honra do Deus santo, e assim foi novamente aberto o caminho do homem ao coração do Pai. Nesse sentido devemos gravar bem fundo em nossos corações as palavras de Lucas 15.7, onde o Senhor Jesus diz: "...haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende..." A hora da glória de Jesus Cristo é festejada continuamente no céu! Você sabe quando? Cada vez que um pecador se arrepende! Pois cada pecador que se arrepende contribui para que a honra do Deus eterno se torne maior e mais gloriosa! (Marcel Malgo -http://www.chamada.com.br)
Publicado anteriormente na revista Chamada da Meia-Noite, abril de 1998.

Fonte: [Chamada]

Para Santificar o Povo, Pelo Seu Próprio Sangue

"Por isso foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério" (Hb 13.12-13).
As palavras "...para santificar..." esclarecem porque Jesus teve que sofrer e morrer "fora da porta". A Sexta-Feira da Paixão nos mostra, por um lado, a seriedade abaladora do pecado: se o Deus onisciente e onipotente não viu outro caminho a não ser deixar Seu amado Filho morrer publicamente de maneira terrível na cruz, a questão do pecado deve ser horrivelmente séria. Por outro lado, entretanto, também vemos nos acontecimentos do Gólgota a grandeza do insondável amor de Deus. A Sexta-Feira da Paixão também nos dá uma visão da profundeza assustadora da luta entre a luz e as trevas. Essa luta pelo poder já começou antes da fundação do mundo, quando a "estrela da manhã" caiu em sua orgulhosa rebelião contra Deus e se transformou em Satanás (comp. Is 14.12-15; Ez 28.14-17). O mesmo Satanás, em forma de serpente, enganou Eva, a mulher de Adão, o primeiro homem. Desse modo, acentuou-se o conflito entre a luz e as trevas até à hora em que foi decidido na cruz do Gólgota.
As palavras "pelo seu próprio sangue", em Hebreus 13.12, nos causam admiração e nos levam à adoração. Pois a Escritura diz em Levítico 17.11: "...a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas: porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida." Quando lemos atenta e repetidamente o Antigo Testamento, especialmente as leis sobre os sacrifícios e seus muitos detalhes, vemos repentinamente, à luz do sacrifício singular de Jesus Cristo, o significado da minúcia com que o Deus eterno ordenou todos esses sacrifícios através de Moisés:
  • a oferta pela culpa: Jesus tomou nossa culpa sobre Si
  • a oferta pelo pecado: Ele foi feito pecado por nós
  • a oferta pacífica: o coração de quem aceita a Jesus fica cheio de louvor e gratidão a Deus, pois passa a ter paz com Deus
  • o holocausto: ele aponta para a entrega completa do Filho de Deus
  • a oferta de manjares: ela representa a vida santa e sem pecado de Jesus
Mil anos antes do Gólgota, já ouvimos o grito de Jesus na cruz através da boca de Davi: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de meu salvamento as palavras de meu bramido? Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego. Contudo tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel... Não te distancies de mim, porque a tribulação está próxima, e não há quem me acuda... Cães me cercam; uma súcia de malfeitores me rodeia; traspassaram-me as mãos e os pés. Posso contar todos os meus ossos; eles me estão olhando e encarando em mim. Repartem entre si as minhas vestes, e sobre a minha túnica deitam sortes. Tu, porém, Senhor, não te afastes de mim; força minha, apressa-te em socorrer-me" (Sl 22.1-3,11,16-19). Aqui já O vemos sofrendo "fora da porta" na palavra profética. E "lá fora", abandonado por Deus, Ele derramou Seu precioso sangue, que tem oito efeitos:
1. Ele purifica de todo pecado (1 Jo 1.7).
2. Ele redime do poder do pecado (Ef 1.7).
3. Ele nos resgata do fútil procedimento diabólico legado por nossos pais (1 Pe 1.18-19).
4. Ele produz paz com Deus (Cl 1.20).
5. Ele dá justificação diante de Deus (Rm 5.9).
6. Ele nos aproxima de Deus, a nós que "antes estávamos longe" (Ef 2.13).
7. Ele nos santifica (Hb 9.13-14).
8. Ele nos dá acesso livre à presença direta de Deus (Hb 10.19).
Mas, meus amigos, quão alto preço Jesus pagou por isso!
O que realmente aconteceu no Getsêmani
Já quando Jesus entrou naquele jardim na noite anterior à Sexta-Feira da Paixão, Ele foi preparado como o Cordeiro que seria morto. Dos evangelistas, somente Marcos fala dos sentimentos mais profundos do Senhor Jesus quando foi feito pecado lá no Getsêmani. Em Marcos 14.33-34 está escrito dEle: "E, levando consigo a Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia. E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai." Em outras palavras: Sua expressão mostrava profundo temor e aflição.
Esse terrível temor, entretanto, não era da morte na cruz do Gólgota. Pelo contrário. Aqui no Jardim Getsêmani, Deus o Pai já começou a se afastar do Seu Filho, porque O fez pecado (2 Co 5.21). Então, os poderes satânicos da morte se lançaram sobre Jesus, para frustrar o grande alvo que Ele tinha em mente – redimir a ti e a mim. Quando Jesus viu que começava a morrer lá no Getsêmani, pouco antes de começar a agonia e Seu suor se tornar como gotas de sangue, Ele se inclinou diante do Pai e Lhe pediu: "Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e, sim, a tua. Então lhe apareceu um anjo do céu que o confortava. E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra" (Lc 22.42-44). Que cálice Jesus pediu que passasse dEle? Ele se referia ao cálice do Gólgota? Não, pelo contrário. Tratava-se do cálice que Ele teria que tomar evidentemente no Getsêmani, se o Pai não O livrasse dele. Esse cálice consistia para Jesus em ter que morrer já no Getsêmani, sem poder realizar a obra de salvação no Gólgota. Mas, conforme Filipenses 2.8, Ele foi"obediente até à morte (no Getsêmani), e morte de cruz (no Gólgota)." Por isso, no Getsêmani, Ele orou três vezes ao Pai com as palavras: "...contudo, não se faça a minha vontade, e, sim, a tua." Aí Deus interferiu, porque Seu amado Filho tinha passado também por esta prova de obediência. O que aconteceu no Getsêmani é também descrito em Hebreus 5.7: "Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte, e tendo sido ouvido por causa da sua piedade". Quando Jesus orou ao Pai no Getsêmani: "...contudo, não se faça a minha vontade, e, sim, a tua", o Pai O ouviu. Desse modo, por meio do sumo sacerdote e de Pilatos, Jesus foi conduzido ao Gólgota.
Tendo experimentado em Sua alma o ficar "fora" no Getsêmani, Ele teve que sofrer o "ser feito pecado" em corpo, alma e espírito – não mais na escuridão da noite, mas publicamente, de dia. Entretanto, está escrito dEle: "...o qual em troca da alegria que lhe estava proposta (de poder nos santificar), suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia..." (Hb 12.2).
As grandiosas dimensões dos sofrimentos de Jesus
Tendo como pano de fundo a luta milenar entre luz e trevas no mundo invisível, podemos imaginar o que o Filho de Deus teve que passar naquelas horas no mundo visível. O fato de Jesus ter sofrido"fora da porta" (Hb 13.12b), apresenta grandiosas dimensões. Pois, sofrer "fora da porta" significou para Ele:
1. Esvaziamento
Lemos a respeito em Filipenses 2.6-7: "pois ele, subsistindo em forma de Deus não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana." Quando o Filho de Deus se esvaziou a si mesmo da glória que tinha com o Pai e se tornou homem, Ele se dirigiu para "fora da porta", para tomar sobre si voluntariamente o "vitupério" (a afronta, o desprezo) que o aguardava.
2. Tornar-se realmente um com o pecado
Já no Getsêmani, como vimos, e então publicamente na cruz do Gólgota, Jesus Cristo foi feito pecado por nós por parte de Deus, o Pai: "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Co 5.21). Nós, que nascemos no pecado (Sl 51.5), nem podemos compreender o que significou para o Filho de Deus, que não tinha pecado, ser identificado com o pecado e, ainda mais, ser Ele mesmo feito "pecado".
3. Tirar todos os pecados
Jesus também sofreu "fora da porta" porque tirou os pecados de todos os homens de todos os tempos. João Batista exclamou a respeito dEle: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" (Jo 1.29). Não está escrito "tirará", mas que Jesus "tira" o pecado do mundo. Isso significa que já naquele tempo, quando encontrou João Batista, o pecado pesava sobre Ele.
Quando somos acusados injustamente de uma coisa ruim, que não fizemos, algo começa a "trabalhar" em nós. Isaías 53.11a fala profeticamente de Jesus, referindo-se ao "penoso trabalho de sua alma". Quanto trabalhou a alma de Jesus sob a carga dos bilhões e bilhões de pecados que foram lançados sobre Ele, isto é, atribuídos a Ele – o Cordeiro "sem defeito e sem mácula" (1 Pe 1.19).
4. O ser levantado na cruz
O sofrer "fora da porta" foi ainda mais profundo, ainda mais definitivo. Quem jamais entendeu a profundidade assombrosa das palavras de Jesus em João 3.14-15, que são tão indescritivelmente gloriosas para nós? Lá está escrito: "E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna." Por que o Senhor se referiu a esse acontecimento do Antigo Testamento? Resposta: naquele tempo, o povo de Israel se rebelou contra Deus e contra Moisés (comp. Nm 21.4-5). Como castigo, "o Senhor mandou entre o povo serpentes abrasadoras, que mordiam o povo; e morreram muitos do povo de Israel" (v. 6). Quando os restantes do povo foram a Moisés, arrependendo-se do seu pecado e confessando-o, e Moisés intercedeu por eles diante do Senhor (v. 7), "disse o Senhor a Moisés: Faze uma serpente abrasadora, põe-na sobre uma haste: e será que todo mordido que a mirar, viverá. Fez Moisés uma serpente de bronze, e a pôs sobre uma haste; sendo alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze, sarava" (vv. 8-9). Somente quando o Senhor da Glória como que se identificou completamente com a antiga e má serpente e se deixou pregar no madeiro maldito, Ele pôde pisar a cabeça dela. Nesse momento, Ele, a luz do mundo, teve o mais intenso confronto com o poder das trevas; e Ele realizou essa luta completamente sozinho.
5. O abandono de Deus
Esse sofrimento "fora da porta" se tornou mais terrível para Jesus quando também Deus, o Pai, se afastou dEle, porque não O via mais como Seu Filho, mas como o próprio pecado. Pois Deus odeia o pecado com ódio eterno; mas Ele ama o pecador com eterno amor.
Agora vamos olhar em espírito para o Crucificado, com santa reverência:
O que Jesus realmente fez na cruz?
O solo em que se encontra a cruz é sagrado. Quanto já se falou, orou, cantou e pensou a respeito daquilo que Jesus realizou ali! E mesmo assim nos admiramos cada vez mais sobre Seu amor incompreensível!
No Novo Testamento encontramos 29 vezes a palavra "cruz" e 47 vezes o verbo "crucificar". Que nosso Senhor, durante Sua vida terrena, sempre tinha em mente a cruz é provado pela Sua repetida exigência de que todos que queriam segui-lO deviam "tomar a sua cruz" (comp. Lc 14.27; 9.23; Mt 10.38; 16.24; Mc 8.34; 10.21). Quando Moisés e Elias estiveram com Jesus sobre o alto monte, eles"falavam da sua partida, que ele estava para cumprir em Jerusalém" (Lc 9.31); eles falavam da Sua cruz. O apóstolo Paulo o lembrou aos gálatas quando lhes escreveu: "" gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado?" (Gl 3.1). Em outras palavras: quem viu, ou seja, quem compreendeu o que Jesus fez na cruz, perde o orgulho e a obstinação; tal pessoa não pode mais cair de volta em esforços próprios para querer se justificar diante de Deus pelas próprias obras. Entretanto, devemos frisar antecipadamente que até hoje "a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus" (1 Co 1.18). E aqui já resplandece o indescritível que Jesus fez por nós na cruz. Nenhum homem é capaz de entender toda a profundidade das palavras encontradas em João 1.29: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" Hermann Bezzel (1861-1917) tentou expressá-lo com as seguintes palavras:
Vejam, essa é a grandeza de Jesus Cristo! Ele experimentou e sofreu em sua totalidade cada um dos pecados de que um homem é capaz. Tudo o que faz o pecado ser tão atraente: o prazer que ele promete; a vantagem que ele faz vislumbrar; o momento de satisfação que é obtido com um ato escondido; Jesus deixou tudo isso fazer efeito sobre si. Assim Ele veio à humanidade, a nós. Então, o pecado se tornou para ele não algo que se conhece de ouvir falar, mas uma realidade palpável. Desse modo, Ele assumiu o corpo da humanidade e passou por todas as tentações da grandeza e por toda a miséria da insignificância. Ele deixou vir sobre si tanto os atrativos e as tentações do poder como os fios de seda do engano com que uma vida humana é envolvida antes de ser presa em correntes de ferro e destruída. Mas, Ele não sucumbiu ao pecado!
Para mim, entretanto, o mais grandioso consiste do fato de que "Aquele que não conheceu pecado"Deus "o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus." Isso significa que Jesus não somente tirou os pecados do mundo, que ninguém pode contar, mas que Ele, que não tinha pecado, assumiu nossa natureza pecaminosa e assim tomou sobre si o terrível castigo de Deus pelo pecado e pelos pecados.
Mas, por que isso tinha que acontecer justamente numa cruz? Por que não de outra forma, menos terrível? Encontramos o motivo em Gálatas 3.13, onde está escrito: "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro". Por isso, em Seu caminho de sofrimentos, Jesus foi identificado tão claramente com Sua cruz. Por exemplo, em:
– João 19.17: "...e ele próprio, carregando a sua cruz..."
– João 19.18: "...onde o crucificaram..."
Pensemos por alguns momentos sobre essa última frase. Imaginemos em espírito, sem muitas palavras, o que aconteceu então no Gólgota: chegando à colina, eles fizeram rapidamente os preparativos. A cruz foi levantada e firmada; os martelos, cravos e cordas foram preparados. Uma grande multidão cercava a colina e se aglomerava para assistir ao ato horrendo que se realizaria. O Senhor estava tranqüilo, em silêncio. Certamente também Ele sentiu calafrios em Seu íntimo. O que, entretanto, devia estar se passando em Seu coração, em Seus pensamentos? O Salmo 22 o revela. Do fundo do Seu coração, Ele clamava ao Pai: "Não te distancies de mim, porque a tribulação está próxima, e não há quem me acuda" (v. 11). Oh! que terrível: cercado pelas Suas criaturas, a Origem da vida está sendo executada! Por isso, Ele orou: "Muitos touros me cercam, fortes touros de Basã me rodeiam. Contra mim abrem as bocas, como faz o leão que despedaça e ruge" (vv. 12-13).
Pouco antes da crucificação de Jesus está dito: "Deram-lhe a beber vinho com mirra, ele, porém, não tomou" (Mc 15.23). Era costume dar uma bebida anestésica aos criminosos antes da execução, como atualmente se anestesia um paciente antes de uma operação para tornar os nervos insensíveis. Não sabemos por qual motivo se fazia isso. Será que era por compaixão de quem ia sofrer? Creio que não. Certamente se agia assim por consideração àqueles que tinham que realizar o horripilante trabalho de pregar o condenado na cruz. Sem dúvida, muitos criminosos gritavam de forma abaladora, alguns se defendiam como leões depois da primeira martelada, outros conseguiam se soltar no desespero das dores. Portanto, naquele tempo cruel certamente se procurou um meio para facilitar tal trabalho sangrento.
De qualquer modo, é completamente errado supor que se tenha tido misericórdia do Senhor. Pelo contrário, também nesse caso se cumpriu o clamor profético do salmista: "não há... ninguém que por mim se interesse" (Sl 142.4). Jesus recusou a bebida anestésica. Ele queria tomar o cálice do Pai em plena consciência. Nenhuma gota de amargura deveria passar despercebida. Pois Ele sabia que não seria atingido por nada além daquilo que o Pai justo tinha determinado para Ele como expiação pelo mundo caído. Isso, entretanto, Ele queria tomar sobre si inteiramente como Substituto, em sagrado reconhecimento do justo juízo de Deus sobre o pecado. Isso é importante para nós. Também nós devemos suportar conscientemente os sofrimentos que Deus nos impôs. Ainda hoje o mundo oferece como má solução aos sofredores que se beba do seu cálice de tontear para esquecer, espantar e mitigar a dor. Sugere-se: deves desanuviar, deves aproveitar, não deves pensar continuamente em tua tristeza; vem conosco, te mistura entre os alegres, vai ao teatro, participa das nossas alegres festas, e logo perceberás que grande parte da tua tristeza é somente imaginação. Assim o mundo seduz. Assim ele quer curar a dor da tribulação.
O Senhor, porém, quer nos conduzir à comunhão dos Seus sofrimentos. Mas por quê? Em Filipenses 3.10-11 nos é dada a jubilosa resposta: "para o conhecer e o poder da sua ressurreição e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para de algum modo alcançar a ressurreição dentre os mortos." Sem a Sexta-Feira da Paixão nunca teria acontecido a Páscoa! Por isso, se Deus nos impõe um sofrimento, devemos senti-lo, tomá-lo sobre nós conscientemente e carregá-lo diante dEle com orações e súplicas. Então ele trará bênçãos presentes e eternas. Lemos no Salmo 126.5-6: "Os que com lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes." Um dia, certamente será algo glorioso além de qualquer medida ter passado pela comunhão dos sofrimentos de Cristo. O fruto da tribulação será grandioso além de qualquer expectativa!
O lado profético da Sexta-Feira da Paixão
Após Sua ressurreição, o Senhor se juntou aos desanimados discípulos no caminho de Emaús e"Então lhes disse Jesus: " néscios, e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras" (Lc 24.25-27). Também aos Seus demais discípulos Ele falou a seguir – referindo-se ao Gólgota e à Sua ressurreição – sobre o cumprimento da palavra profética: "São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco, que importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer, e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia" (Lc 24.44-46).
O principal tema de que o Ressuscitado tratou com Seus discípulos foi: o cumprimento da palavra profética através do Seu sofrimento, da Sua morte e da Sua ressurreição. Como já constatamos antes, também as leis dos sacrifícios do Antigo Testamento (ofertas pela culpa, pelo pecado, holocausto, etc.), em todos os seus detalhes, apontam com muita clareza para o sacrifício singular do corpo de Jesus Cristo. Mas Ele, nosso grande Sumo Sacerdote, é representado ainda mais nitidamente pelo sumo sacerdote antigo-testamentário. Como este podia ser imediatamente reconhecido? Por aquilo que o Senhor ordenou em Êxodo 28.36-38: "Farás também uma lâmina de ouro puro, e nela gravarás à maneira de gravuras de sinetes: Santidade ao Senhor. Atá-la-ás com um cordão de estofo azul, de maneira que esteja na mitra; bem na frente da mitra estará. E estará sobre a testa de Arão, para que Arão leve a iniqüidade concernente às cousas santas, que os filhos de Israel consagrarem em todas as ofertas de suas cousas santas; sempre estará sobre a testa de Arão, para que eles sejam aceitos perante o Senhor." Aqui temos a base profética antigo-testamentária daquilo que está escrito em Hebreus 13.12: "Por isso foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta." Em João 19.17 vemos Jesus em Seu caminho para o Gólgota: "Tomaram eles, pois, a Jesus; e ele próprio, carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, Gólgota em hebraico".
Sua vida era de "santidade ao Senhor". E, pelo derramamento do Seu sangue na cruz, Ele entregou Sua vida santa. Pouco antes, Ele se referiu a isso em Sua oração sacerdotal, quando disse ao Pai:"E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade" (Jo 17.19). Esse elevado alvo, que Jesus tinha em mente quando se deixou crucificar, ou seja, que sejas "santificado", está sendo realizado em ti? Em outras palavras: és santificado para Ele? És Sua propriedade? Por que é tão importante para Deus que sejamos "santificados na verdade"? Porque somente dessa maneira corresponderemos à Sua vontade, que é descrita assim em Êxodo 28: "...para que me ministre o ofício sacerdotal..." (v. 3), ou: "...para me oficiarem como sacerdotes..." (v. 1,4). Esse é o objetivo, o grande alvo da Sexta-Feira da Paixão.
Os dois aspectos do Grande Dia da Expiação em sentido profético
Uma vez por ano Israel comemorava (e comemora) o Grande Dia da Expiação: o Yom Kippur. Nesse dia, ninguém realizava qualquer trabalho, pois todo o povo se reunia junto à tenda da congregação, ou seja, no templo. Somente o sumo sacerdote realizava a grande obra da reconciliação. Lemos a respeito em Levítico 16.30-32a: "Porque naquele dia se fará expiação por vós, para purificar-vos: e sereis purificados de todos os vossos pecados perante o Senhor. É sábado de descanso solene para vós outros, e afligireis as vossas almas: é estatuto perpétuo. Quem for ungido e consagrado para oficiar como sacerdote no lugar de seu pai, fará a expiação..."
Esse primeiro aspecto do Yom Kippur foi cumprido na Sexta-Feira da Paixão, quando Jesus Cristo não derramou sangue estranho, mas Seu próprio sangue e, assim, penetrou no Santo dos Santos:"Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção" (Hb 9.11-12). E para que realmente entendamos bem que o Yom Kippur – no que se refere à reconciliação – realmente foi cumprido, o autor da Epístola aos Hebreus volta mais uma vez ao assunto no mesmo capítulo: "Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus; nem ainda para se oferecer a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio. Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar pelo sacrifício de si mesmo o pecado. E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos..." (Hb 9.24-28a).
A maravilhosa conclusão em sentido profético do Grande Dia da Expiação comemorado anualmente, entretanto, ainda está por acontecer, pois lemos logo a seguir: "...aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação" (v. 28b). Vocês vêem os centenas de milhares, sim, de milhões de filhos de Israel aguardando? O que eles aguardam? Por que, após quase dois mil anos de dispersão, eles voltaram de todo o mundo para Israel, à terra dos seus pais? Para esperar pela volta do Sumo Sacerdote em Suas vestes de glória! A respeito, os sumos sacerdotes do Antigo Testamento também tinham um "sinal dos tempos", pois em Êxodo 28.33-35 está escrito sobre as "vestes de glória" de Arão: "Em toda a orla da sobrepeliz farás romãs de estofo azul, púrpura e carmesim; e campainhas de ouro no meio delas. Haverá em toda a orla da sobrepeliz umacampainha de ouro e uma romã, outra campainha de ouro e outra romã. Esta sobrepeliz estará sobre Arão quando ministrar, para que se ouça o seu sonido, quando entrar no santuário diante do Senhor, e quando sair, e isso para que não morra."
Há quase dois mil anos, Jesus Cristo, como Grande Sumo Sacerdote, entrou no Santo dos Santos celestial pelo Seu próprio sangue (comp. Hb 9.12-14). Em breve, porém, Ele aparecerá com as vestes da glória, "sem pecado, aos que o aguardam para a salvação." Entretanto, somente aguardam realmente por Ele os que se deixaram santificar pelo sangue de Jesus. E, quem são esses? Aqueles que já tomaram a única atitude correta diante do que está dito em Hebreus 13.12: "Por isso foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta." Essa conseqüência obrigatória, vital, do Seu sangue derramado "fora da porta" pela nossa santificação é descrita com lógica inescapável no versículo seguinte, sendo expressa na exigência:
"Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério" (Hb 13.13)!
O que realmente se pretende dizer com isso? Trata-se de uma identificação completa com Jesus, como o fez Paulo, que testemunha em Gálatas 2.19b-20: "Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim." Quem quer entregar, como Paulo, sua própria vida, com todas as suas paixões e cobiças? Estás realmente disposto a renunciar a tudo que tens (comp. Lc 14.33) e a tomar Seu jugo sobre ti?
Quão vergonhosos são, freqüentemente, nossos lamentos! O Senhor começa a nos conduzir para onde podemos ter comunhão com Ele, isto é, para "fora do arraial", e nós gememos e dizemos: "Oh! Senhor. Deixa-me ser um pouco como as outras pessoas!" Jesus nos pede que tomemos um lado do jugo, dizendo: "...o meu jugo é suave..." (comp. Mt 11.29-30), vem para Meu lado, vamos puxá-lo juntos. Vem para fora, até mim, leva Meu vitupério sobre ti! Quem fizer isso, verdadeiramente estará buscando a santificação (Hb 12.14), ou seja, estará aceitando pessoalmente a santificação que o Senhor realizou pelo Seu sangue. Por isso, em crasso contraste, em Hebreus 10.28-29 estão escritas as sérias palavras: "Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?" Como filho de Deus, tua posição é de santificado pelo sangue de Jesus. Mas, como está tua situação de santificação pessoal – quão distantes estão a posição e a situação de santificação?
Olha para Jesus em Seu grande amor por ti: Ele se deixou sacrificar por ti! Não deveria ser o desejo do teu coração, sacrificar-te também por Ele? Ele se entregou por ti, Ele não ficou com nada para si, esquecendo-se completamente por tua causa. E tu irias esquecer dEle, não irias te entregar voluntariamente a Ele como sacrifício de louvor? Ele foi sepultado por ti no pó da morte; Ele suportou vergonha e a mais profunda humilhação por tua causa – e tu ainda irias cultivar teu amor-próprio e querer ter grande prestígio neste mundo, em que Ele foi tão desprezado? Ele curvou Sua cabeça; Sua cabeça estava cheia de sangue e feridas, de dores e escárnio – e tu ainda irias andar com pensamentos orgulhosos, mantendo tua cabeça erguida com altivez e inflexibilidade? Ele sofreu tantas dores e tormentos em Seu corpo e Sua alma, e tu ainda irias correr atrás de alegrias terrenas? Não queres também tu sair a Ele, fora do arraial, levando o Seu vitupério? Suas mãos foram traspassadas e farias armas de injustiça das tuas? Seus pés foram furados pelos cravos, e tu andarias pelos caminhos da desavença e da destruição com os teus? Ele foi levantado nu na cruz, e tu te exibirias com pompa e vaidade? Ele obteve eterna justiça através de profundas dores, e tu Lhe roubarias a glória ao procurares estabelecer tua própria justiça? Oh! não, tudo seja lançado ao pó, desprezado e considerado como refugo por Sua causa! Dize-Lhe agora de forma clara e decidida: "Senhor Jesus, quero sair a Ti, fora do arraial, levando o Teu vitupério!" (Wim Malgo –http://www.chamada.com.br)

Fonte: [Chamada]