terça-feira, 17 de agosto de 2010

O Caminho da Fidelidade não é uma Linha Reta – John Piper


Outra grande lição de como a soberania da graça de Deus conduz à paciência é a história de como o templo foi reconstruído após o exílio babilônico. A maneira em que Deus age para transformar as coisas é tão surpreendente que ele mesmo deve ter sorrido. Israel esteve no exílio por décadas. Agora tinha chegado a hora, no planejamento divino, do retorno deles à terra prometida. Como isso poderia acontecer? Esta era, sem dúvida, a pergunta na mente de muitos judeus no esforço de serem pacientes em relação ao tempo de Deus. A resposta é a soberania divina sobre a vontade dos imperadores. Esdras nos conta: "no primeiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, a fim de que se cumprisse a palavra do SENHOR falada por Jeremias, o SENHOR despertou o coração de Ciro, rei da Pérsia [.,.] para construir um templo para ele em Jerusalém de Judá" (Esdras 1.1,2). Isso é absolutamente espantoso. Do nada, Deus move o coração de Ciro para que ele preste atenção nesse minúsculo povo chamado judeu, e o envia a Jerusalém para construir seu templo. Quem teria sonhado que isso pudesse acontecer desse modo? Talvez os que tivessem fé na graça futura. Mas o melhor ainda estava por vir.

Mais de 42 mil refugiados judeus voltam e recomeçam a construir o templo em Jerusalém. Imagine a alegria. Mas cuidado. O caminho da fidelidade raramente é uma linha reta para a glória. Seus inimigos em Jerusalém se opõem a eles e os desencorajam: "Então a gente da região começou a desanimar o povo de Judá e a atemorizá-lo, para que não continuasse a construção. Pagaram alguns funcionários para que se opusessem ao povo e frustrassem o seu plano. E fizeram isso durante todo o reinado de Ciro até o reinado de Dario, reis da Pérsia" (Esdras 4.4,5). Imagine a decepção e a impaciência do povo. Aparentemente Deus lhes abrira a porta para a reconstrução, e agora surgia a oposição paralisante.

Contudo, Deus possuía outro plano. E isso ocorreu para que pessoas com fé na graça futura pudessem enxergar o que simples olhos físicos não conseguem ver! Sim, o povo da terra interrompeu a construção. Mas não podemos confiar em Deus que a mesma soberania que moveu Ciro também prevaleça sobre os oponentes locais? Somos tão lentos em aprender a lição da graça soberana de Deus! Em Esdras 5.1, Deus envia dois profetas, Ageu e Zacarias, para inspirar o povo a recomeçar a construção. É verdade, os inimigos ainda estão ali. Eles tentam novamente interromper a construção do templo. Escrevem uma carta a Dario, o novo imperador. Mas o tiro sai totalmente pela culatra, e agora vemos por que Deus permitiu a pausa temporária da reconstrução.

Em vez concordar com a carta e interromper a construção do templo, Dario fez uma busca nos arquivos e encontrou o decreto original de Ciro que autorizara a construção do templo. O resultado foi espantoso. Ele respondeu com uma notícia que superou a imaginação ou os pedidos deles. Ele disse aos inimigos de Judá: "Não interfiram na obra que se faz nesse templo de Deus. [...] Além disso, promulgo o seguinte decreto a respeito do que vocês farão por esses líderes dos judeus na construção desse templo de Deus: As despesas desses homens serão inte¬gralmente pagas pela tesouraria do rei, do tributo recebido do território a oeste do Eufrates, para que a obra não pare" (Esdras 6.7,8). Em outras palavras, Deus ordenou um revés por uma época, para que o templo não fosse só reconstruído, mas pago por Dario! Se a fé pudesse captar esse tipo de graça futura, não estaria vencida a impaciência?

E para que não duvidemos que tudo isso era de fato plano de Deus, Esdras 6.22 afirma abertamente esse grande fato: "...o SENHOR os enchera de alegria ao mudar o coração do rei da Assíria, levando-o a dar-lhes força para realizarem a obra de reconstrução do templo de Deus, o Deus de Israel". Se William Cowper (1731-1800) já tivesse escrito seu grandioso hino: "God Moves in a Mysterious Way" ["Deus age de forma misteriosa"], penso que o povo de Israel o teria cantado.

Não julguem o Senhor pelos seus débeis sentidos, mas confiem na graça dele; por trás da providência sombria ele esconde um sorriso no rosto.

Viver pela fé na graça futura significa crer que "o coração do rei é como um rio controlado pelo SENHOR; ele o dirige para onde quer" (Provérbios 21.1). Deus fez isso com Ciro (Esdras 1.1); ele fez isso com Dario (Esdras 6.22) e mais tarde o fez com Artaxerxes: "Bendito seja o SENHOR, O Deus de nossos antepassados, que pôs no coração do rei o propósito de honrar desta maneira o templo do SENHOR em Jerusalém" (Esdras 7.27). Deus governa o mundo. Ele rege a história. E tudo isso ele faz para o bem do seu povo e para a glória do seu nome. "Desde os tempos antigos ninguém ouviu, nenhum ouvido percebeu, e olho nenhum viu outro Deus, além de ti, que trabalha para aqueles que nele esperam' (Isaías 64.4). O poder da paciência flui por meio da futura e soberana graça de Deus.

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