sábado, 25 de junho de 2011

Uma Triste Confissão - C.H.Spurgeon - Sermão 3530



Sermão 3530 - Vol 62 - Publicado em 1916

... e dele não fizemos caso (Is 53.3)
Para alguns de nos não será fácil recordar a primeira vez em que ouvimos o nome de Jesus. Na tenra infância esse doce som era-nos tão familiar aos ouvidos quanto suaves as canções de ninar. Nossas recordações mais remotas associam-se à casa de Deus, ao altar da família, à Bíblia Sagrada, aos hinos sacros e à oração fervorosa. Como pequenos Samuéis, éramos iluminados em nosso repouso pelas lâmpadas do santuário e despertados pelo som de um hino matinal. Muitas vezes um homem de Deus, rece­bido pela hospitalidade dos nossos pais, implorou uma bênção sobre nossas cabeças, desejando com toda sinceridade que pudés­semos cedo chamar o Redentor de bendito; e a essa petição ou­via-se um ardente "amém" de uma mãe. A nós pertencia uma feliz porção e uma herança boa; mesmo assim, "nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe", e esses privilégios não foram suficientes para nos dar o amor Jesus e o perdão pelo seu sangue.
Freqüentemente somos levados a lamentar por pecados agravados pela luz clara como a do meio-dia — ordenanças subes­timadas por sua própria freqüência — avisos desprezados, embo­ra acompanhados de lágrimas paternais, e aversões sentidas no coração, se não expressas pelos lábios, para com as ricas bênçãos celestiais. Somos testemunhas, em pessoa, do fato de haver uma depravação inata, a praga de nascença deixada ao homem; e po­demos testificar a doutrina de que a graça, e tão somente ela, pode mudar o coração. São nossas as palavras de Isaías com ênfa­se, apesar das influências santificadas que nos cercam; ao proferir­mos a confissão: "...e dele não fizemos caso", os esconderijos de nossa infância, as companhias de nossa juventude e os pecados de nossa vida adulta unanimemente confirmam que falamos a verda­de.
Iniciando, pois, com nossa própria experiência, somos levados a deduzir que aqueles a quem foram negadas nossas van­tagens certamente serão compelidos a adotar a mesma linguagem humilde. Se o filho de pais consagrados, que pelo poder divino foi levado a conhecer o Senhor na juventude, se sente constrangido a reconhecer que houve um tempo em que não fez caso do Salva­dor, será que o homem que teve uma educação irreligiosa, uma infância tumultuada, uma juventude permissiva e uma maturidade criminosa poderá adotar uma linguagem menos humilhante? Não; acreditamos que todo homem nessas condições, que agora se en­contra redimido das mãos do inimigo, reconhece prontamente que outrora negligenciou cegamente as belezas do nosso glorioso Emanuel. E mais: nos aventuramos a desafiar a "igreja do primogênito" a apresentar um único santo que não tenha passadodiante da cruz com indiferença, ou até com desdém.
Não importa se revistamos o "nobre exército de márti­res", "a devota comunhão dos profetas", "o glorioso grupo dos apóstolos", ou "a santa igreja espalhada pelo mundo", não desco­briremos sequer um amante do adorável Redentor que não partici­pe da confissão coletiva: "...e dele não fizemos caso."
A você eu peço que faça uma pausa para se perguntar se você faz caso dele agora; pois pode suceder que até o presente você não tenha visto nele "nenhuma beleza que o agra­dasse", ou não tenha tomado para si a exclamação da esposa: "Sim, ele é totalmente desejável." Se você se encontra neste esta­do infeliz, uma meditação sobre isso, sob a influência do Espírito Santo, será de grande valia; e rogo-lhe que, enquanto revelamos os segredos do que outrora era nossa prisão, você anseie intensa­mente a libertação da escravidão que o priva de viver alegremente aqui e o afasta da felicidade no futuro.

Primeiramente, proponho que nos esforcemos por tra­zer vividamente diante de nossos olhos o fato de termos outrora feito pouco caso da pessoa de Jesus; em segundo lugar, veremos as causas dessa insensatez; e em terceiro, tentaremos despertar emoções próprias a essa contemplação contrita.
I. Vamos à casa do oleiro ver como éramos antes barro sem forma; lembremo-nos da "rocha de que fomos cortados" e da "caverna do poço de que fomos cavados", para repetirmos com profundo pesar as palavras do profeta: "... e dele não fizemos caso." Examinemos seriamente o diário da memória, pois nele estão fielmente registrados os nomes das testemunhas da nossa culpa.
Façamos uma pausa para considerar primeiro nossos atos pecaminosos visíveis, pois são como imensas voçorocas margeando a montanha da vida, comprovando a existência da rocha por baixo.
Poucos homens se arriscariam a ler sua própria biogra­fia, se todos os seus feitos estivessem ali registrados. Poucos po­dem olhar seu passado sem corar de vergonha. "Todos pecamos e carecemos da glória de Deus." Nenhum de nós pode alegar per­feição. E verdade que, muitas vezes, uma descuidada auto-complacência nos faz exultar na virtude das nossas vidas, mas assim que a fiel memória desperta, instantaneamente ela dissipa essa ilusão! A memória agita sua varinha mágica e centenas de sapos surgem no palácio do rei; os rios límpidos tornam-se em sangue ao seu olhar; toda a terra fervilha de coisas nojentas. Onde imagi­návamos pureza, surge a imperfeição. A grinalda de neve da satis­fação derrete diante do sol da verdade; a tigela açucarada dos aplausos torna-se amarga com lembranças tristes; sob a lupa da honestidade, as deformidades e irregularidades de uma vida apa­rentemente correta tornam-se desgraçadamente visíveis.
Deixemos que o cristão cujos cabelos estão branqueados pela luz do céu conte a história da sua vida. Ele pode ter sido uma das pessoas mais corretas e moralistas, mas haverá uma mancha escura em sua história, pela qual ele derramará lágrimas de arre­pendimento, pois naquela época ele não conhecia o temor do Senhor. Ou chamemos um heróico guerreiro de Jesus para relatar seus feitos; até ele também apresentará cicatrizes profundas, se­qüelas dos ferimentos recebidos a serviço do Inimigo. Alguns entre os escolhidos, antes de sua regeneração, eram notórios pela culpa e poderiam escrever com Bunyan (em Grace abounding [Graça abundante]): "A minha vida natural, no tempo em que eu estava sem Deus no mundo, em verdade era segundo o curso deste mundo e o espírito que agora atua nos filhos da desobediên­cia. Era meu prazer estar cativo nos laços de Satanás, cheio de injustiça, que operava tão intensamente, tanto em meu coração quanto em minha vida, que havia poucos que amaldiçoavam, pra­guejavam, mentiam e blasfemavam contra o santo nome de Deus tão bem como eu." E suficiente, porém, dizer que cada um de nós cometeu pecados que provam que "dele não fizemos caso".
Será que teríamos nos rebelado contra o Pai com tanta ousadia, se o seu Filho fosse o objeto do nosso amor? Será que teríamos passado por cima dos mandamentos de um Jesus vene­rado? Seríamos capazes de desrespeitar sua autoridade se nossos corações estivessem ligados à sua adorável pessoa? Teríamos pe­cado tão terrivelmente se o Calvário nos fosse precioso? Não, sem dúvida nossas nuvens de transgressões testificam nossa anterior falta de amor por ele. Se fizéssemos caso do Deus-Homem, será que teríamos negligenciado tão completamente suas reivindica­ções? Esquecido totalmente suas palavras amáveis de comando? Será possível insultar a quem se admira; trair um rei amado; des­respeitar a quem se estima ou zombar intencionalmente de quem se venera? Todavia, fizemos tudo isso e mais um pouco; pelo que a menor palavra de lisonja alegando amor natural por Cristo fica evidente aos nossos corações, agora honestos, como sendo tão odiosa quanto o silvo da serpente. Essas iniqüidades não constitui­riam uma prova tão séria de que desprezamos nosso Senhor, caso fossem seguidas de pequenos serviços para ele. Mesmo agora, quando amamos seu nome, muitas vezes somos infiéis, só queagora nossa afeição nos ajuda a "nos arrastarmos em serviço para onde não podemos andar". Antes, porém, entre nossos atos pas­sados não havia nenhum que fosse temperado com o sal do amor sincero; eram todos embebidos no fel da amargura. Ó amado, não nos esquivemos do peso dessa evidência, mas reconheçamos que nosso gracioso Senhor tem muito de que nos acusar, já que esco­lhemos obedecer a Satanás em vez de ao Capitão da salvação e preferimos o pecado à santidade.
Deixemos o fariseu presunçoso gabar-se por ter nascido livre — nós vemos em nossos pulsos as marcas vermelhas dos ferros; que ele se glorie nunca ter sido cego — nossos olhos ainda conseguem lembrar a escuridão do Egito, em que não conseguíamos ver a estrela da manhã. Outros podem almejar a honra de uma salvação merecida — nós sabemos que nossa maior ambição pode ser apenas desejar o perdão e a aceitação tão-so­mente pela graça; lembramos bem o tempo em que o único canal da graça foi desprezado ou negligenciado por nós.
Livro da Verdade ainda tem mais para testemunhar contra nós. Ainda não se apagou da memória a época em que não bebíamos desta sagrada fonte de água viva, nossos vis corações tinham colocado uma pedra sobre a boca do poço que nem a consciência podia remover. A poeira acumulada na Bíblia sujava os dedos; o abençoado volume era o menos procurado de todos os livros da biblioteca.
Embora hoje possamos dizer que a Palavra de Deus é "um templo incomparável onde temos prazer em estar, para con­templar a beleza, a simetria e a magnificência da estrutura, para aumentar nossa reverência e estimular nossa adoração à Divinda­de ali pregada e venerada" (Boyle), houve um período triste em nossas vidas em que recusamos pisar o chão precioso do templo, ou quando apenas por costume entrávamos nele, com passos apres­sados, inconscientes de sua santidade, desapercebidos de sua be­leza, ignorantes de suas glórias e não reverentes à sua majestade.
Agora podemos apreciar a afeição em êxtase de Herbert expressa em seu poema:
O livro infinitamente doce! Que eu coma cada letra, como mel; E bom para curar que quer que fosse, Aliviar a dor, tirar o fel.

Naquele tempo um poema efêmero ou romance fútil po­dia comover nossos corações milhares de vezes mais facilmente do que este "livro de estrelas", este "deus dos livros". Ah, essa Bíblia negligenciada prova muito bem que estimamos Cristo muito pouco. Na verdade, se estivéssemos cheios de afeto por ele, tería­mos procurado por ele em sua Palavra. Nela, ele se despe, mos­trando  íntimo de seu coração. Nela, cada página está manchada com gotas do seu sangue ou ornada com raios da sua glória. A cada momento o vemos, divino e humano, morrendo e mesmo assim vivo, sepultado e agora ressurreto, Vítima e Sacerdote, Príncipe e Salvador, e todos esses diferentes papéis, relações e condições o tornam valioso para seu povo e precioso para seus santos. Ah, ajoelhemo-nos diante do Senhor e reconheçamos que"dele não fizemos caso", ou teríamos andado com ele nos campos das Escrituras e tido comunhão com ele nos canteiros da inspira­ção.

Trono da Graça, que por tanto tempo não visitamos, igualmente proclama nossa culpa anterior. Raramente nossas sú­plicas eram ouvidas no céu; nossas petições eram formais e sem vida e morriam nos lábios desatentos que as pronunciavam. Ah, que crime quando não nos consagrávamos à adoração, o incensário do louvor não levava um aroma aceitável ao Senhor, nem os fras­cos da oração exalavam um perfume precioso!
Sem serem branqueados pela devoção, os dias do calen­dário ficavam sujos pelo pecado; não sendo impedido por nossas súplicas, o anjo do julgamento acelerava sua vinda para a nossa destruição. A lembrança daqueles dias de silêncio pecaminoso nossas mentes humilham-se no pó; não podemos nos achegar ao trono de misericórdia sem adorar a graça que recebe com boas-vindas aqueles que o desprezaram.
Todavia, por que "nosso coração não esteve em peregrinação"? Por que não cantamos a "melodia que todos ouvem e temem"? Por que não nos alimentamos do "banquete da igreja", do "maná precioso"? Que resposta podemos dar mais completa e plena do que esta: "dele não fizemos caso"? Nossa pouca consideração de Jesus afastou-nos de seu trono. A afeição verdadeira teria conseguido o pronto acesso que a oração dá ao aposento secreto de Jesus recebendo abundância de amor. Podemos aban­donar agora o trono? Não; nossos momentos mais felizes são quando nos ajoelhamos, pois assim é que Jesus se manifesta a nós. Apreciamos a companhia deste que é o melhor amigo, pois sua presença divina "traz tal beleza interior para a casa onde ele habita, que os palácios mais suntuosos invejam seu esplendor". Com prazer procuramos o lugar secreto, pois ali nosso Salvador nos permite desabafar nossas alegrias e tristezas, passando-as para ele.

Ó, Cordeiro de Deus! Nossa negligência na oração nos leva a confessar que houve um tempo em que não víamos em ti aparência nem formosura.
Ademais, o fato de evitarmos o povo de Deus, confirma a verdade humilhante. Nós que agora fazemos parte do "exército sagrado dos eleitos de Deus, nos alegrando na amizade dos justos, éramos outrora "estrangeiros e peregrinos". A língua de Canaã era aos nossos ouvidos um gaguejar sem significado, do qual es­carnecíamos, uma gíria grosseira que não tentávamos imitar, ou uma "língua estranha" além da nossa capacidade de interpreta­ção. Os herdeiros da vida eram ou desprezados por nós como "objetos de barro, obra das mãos de oleiro", ou nos retirávamos da companhia deles cientes de que não éramos companheiros dig­nos dos "nobres filhos de Sião, comparáveis a ouro puro." Muitas vezes olhamos cansados para o relógio quando, em companhia de alguém, o tema era espiritual demais para nossa compreensão fraca; tantas vezes preferimos a amizade de mundanos risonhos à de crentes mais sérios.
Será preciso indagar qual a origem desta antipatia? O rio amargo não se compara ao rio do Egito, silencioso quanto à sua nascente: ele proclama sua origem abertamente, e o ouvido da auto-preferência não pode ser surdo à voz da verdade — "Não amastes os servos, porque não fizestes caso de seu mestre; nem convivestes entre os irmãos, pois não estabelecestes amizade com o primogênito da família."
Uma das evidências mais claras da alienação de Deus é a falta de vínculo com seu povo. Num grau maior ou menor cada um de nós já passou por isso. E verdade que há certos cristãos com quem gostávamos de estar; contudo, havemos de convir que esse prazer em sua companhia devia-se mais à amabilidade de suas maneiras ou ao estilo cativante de falarem, do que à sua exce­lência intrínseca. Avaliamos a jóia pelo seu engaste, mas um seixo comum no mesmo anel teria igualmente nos chamado à atenção. Os santos, como santos, não eram nossos amigos diletos, nem podíamos dizer: "Sou amigo de todos os que temem a Deus."

Tais sentimentos são produto da mais elevada estima peloRedentor, e sua ausência anterior constitui uma prova conclusiva de que nesse tempo "dele não fizemos caso". Não temos mais necessidade de ajuda nesta auto-condenação.

Domingos profanados partem como guerreiros de um clã selvagem da mata fechada do tempo desperdiçado; eles investem contra osantuário deserto, ameaçando-o com uma vingança ter­rível, se o escudo de Jesus não nos protegesse; as cordas de seus arcos são ordenanças negligenciadas, e suas flechas são mensa­gens de misericórdia desprezadas.
Todavia, para que esses acusadores? A consciência, guar­da da alma, já viu o suficiente. Ela afirmará que viu nossos ouvidos fechados para a voz convidativa do amigo dos pecadores; e que por diversas vezes desviamos os olhos da cruz, quando Jesus esta­va bem visível.
II. Iniciaremos agora um exame das causas ocultas deste pecado. Uma vez curada a doença, pode ser útil saber sua origem, para servir a outros e beneficiar a si mesmo.
Nossa frieza em relação ao Salvador resultou primeira­mente do mal natural de nossos corações. Podemos discernir claramente por que o dissoluto e o perverso têm pouco apreço por pureza e excelência: a mesma razão pode ser dada do nosso desprezo pela encarnação da virtude na pessoa de nosso Senhor Jesus. O pecado é loucura que desqualifica a mente para o julga­mento sóbrio, cegueira que torna a alma incapaz de apreciar a beleza moral; é de fato uma perversão de todas as capacidades em tal escala que, sob sua terrível influência, os homens "ao mal cha­mam bem e ao bem, mal; fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce por amargo." Para nós, em nossa condição caída, demônios muitas vezes pare­cem ser mais justos do que anjos; confundimos os portões do inferno com os portais da glória e preferimos as mentiras camufla­das de Satanás às verdades eternas do Altíssimo. Vingança, luxúria, ambição, orgulho e vontade-própria são mui freqüentemente exaltados como os deuses da idolatria dos homens, enquanto san­tidade, paz, contentamento e humildade são vistos como indignos de uma consideração mais séria. Ah, pecado, o que foi que fizeste! ou melhor, o que desfizeste! Não te contentaste em roubar à hu­manidade a coroa, desviá-la de seu reino feliz, estragar suas vestes reais e saquear seu tesouro; tens feito muito mais do que isto! Não basta degradar e desonrar; feres tuas vítimas, cegas-lhes os olhos, fechas seus ouvidos, confundes seu julgamento e amordaças sua consciência; sim, o veneno de tua flecha malévola contamina a fonte com morte. Tua malícia penetrou o coração da humanidade e, por conseguinte, encheu suas artérias com corrupção e seus ossos com depravação. Sim, monstro, te tornaste um assassino, pois nos deixaste mortos em transgressões e pecados!
Este último termo desvenda todo o mistério, pois se estamos espiritualmente mortos, naturalmente é impossível conhecer e reverenciar o Príncipe da glória. Acaso um morto pode ser levado ao êxtase ou pode seu corpo ser motivado a contemplação sublime? Tente estimular um corpo sem vida, enquanto ele ainda não virou banquete para os vermes e a moldura ainda está completa, embora sem vida. Traga para perto dele o alaúde e a harpa, deixe que melodias suaves e harmonias lindas tentem induzir esse homem ao prazer: ele não vai sorrir com a melodia har­moniosa, nem se comoverá com a cadência melancólica; sim, ainda que a orquestra do redentor extravasasse com fulgor sua música, ele se manteria surdo ao encanto celestial.
Você quer assaltar a cidade por outro portão? Então, coloque perante os olhos desse ser as mais lindas flores colhidas desde que as plantas do Éden foram criadas. Será que ele atentará para a delicadeza da rosa ou a brancura do lírio? Não, esse homem não reconhece a ternura delas mais do que as águas do Nilo percebem a flor-de-lótus que sustenta em seu leito. Venham, ain­da, as tâmaras da Arábia e os ventos impregnados de odores aromáticos do Ceilão, e que o incenso de substâncias fragrantes, de o olíbano e mirra, exale diante dele; eis que suas narinas permane­cem tão imóveis quanto uma estátua, e seus lábios não manifestam nenhum prazer. Sim, você pode trazer auxílios mais poderosos, como o estrondo de uma avalanche, o bramido de cataratas, a fúria do oceano, o uivo dos ventos, o ribombar de um terremoto e o rebôo de um trovão: ainda que todos esses sons unidos de uma só vez ressoassem, não levantariam o dormente de seu diva fatal. Está morto, e este fato desvenda todo o mistério. Assim tambémnós, agora avivados pelo Espírito Santo, estivemos um dia mortos no pecado e "dele não fizemos caso". Eis aí a raiz de todos os nossos delitos, a origem de toda a nossa iniqüidade.
As causas secundárias da loucura que cometemos estão logo abaixo da superfície e requerem apenas um momento de observação. O amor próprio contribuiu em muito para que maltratássemos o "amigo dos pecadores". A presunção com nossos méritos próprios fez-nos indiferentes às reivindicações daquele que buscava para nós uma justiça perfeita. "Os sãos não precisam de médico": nos sentíamos insultados pela linguagem de um evange­lho que nos falava como se fôssemos seres indignos. A cruz pode exercer pouco poder onde o orgulho oculta a necessidade de per­dão; um sacrifício é pouco valorizado quando não estamos consci­entes de que precisamos dele. Em nossa opinião, éramos as cria­turas mais nobres; a oração do fariseu poderia sinceramente pro­vir de nós. Ganhamos algumas ninharias aqui e ali desonestamen­te mas, no geral, pensávamos que estávamos nos tornando "ricos e abastados"; e mesmo quando sob a poderosa voz da lei éramos defrontados com nossa pobreza, ainda esperávamos, através da obediência futura, reverter a sentença, e estávamos totalmenterelutantes em aceitar a salvação que exigia uma renúncia de todos os méritos e uma confiança simples no Redentor crucificado. Ja­mais deixaríamos a nossa lida nem abandonaríamos a "teia de aranha" do esforço próprio, até que todo o trabalho nos fosse tirado das mãos e nossos dedos se tornassem incapazes; somente então nos vestiríamos com a justificação pela graça. Ninguém pode pensar muito de Cristo até que pense pouco de si mesmo. Quanto mais baixa for a visão de nós mesmos, tanto mais elevados serão os pensamentos sobre Jesus; somente quando o aniquilamento próprio for completo, o Filho de Deus poderá ser "tudo em to­dos".

A vangloria e o amor-próprio são férteis progenitores do mal. Crisóstomo chama o amor-próprio de uma das três grandes armadilhas do maligno; e Bernardo o denomina "uma flecha que perfura a alma e a mata; um inimigo insensível e astuto, não percebido". Sob a má influência deste poder nós comumente ama­mos mais quem nos causa mais danos, pois o adulador que ali­menta nossa vaidade com clamores agradáveis de "paz, paz", é muito mais considerado do que o bendito Jesus, que com serieda­de nos adverte de nosso estado doentio. Mas, quando a autoconfiança é retirada — quando a alma é despida pela convicção de pecado, quando a luz do espírito revela o estado repugnante do coração, quando o poder da criatura fracassa, quão precioso é Jesus! Como o marujo prestes a naufragar agarra-se à tábua flutuante, o moribundo olha para o médico, e o criminoso valoriza a clemência — assim estimamos o libertador das nossas almas como Príncipe dos reis da terra. A repugnância de si mes­mo proporciona uma paixão ardente pelo "amante de nossas al­mas" cheio de graça; a auto-complacência esconde de nós sua gló­ria.

O amor ao mundo também tem sua participação no mau uso deste querido amigo. Quando ele bateu na porta, nós lhe recu­samos a entrada porque outro já havia entrado. Já tínhamos esco­lhido outro esposo a quem basicamente entregamos o coração. "Dá-me riquezas", diz alguém. Jesus responde: "Eis-me aqui; eu sou melhor que as riquezas do Egito, e vale mais a pena passar vergonha por mim do que desejar tesouros escondidos." Mas o outro replica: "Tu não és a riqueza que procuro; não busco uma riqueza assim sem substância, ó Jesus! Não me importa uma ri­queza para o futuro — desejo uma riqueza para o presente; quero um tesouro em que posso pôr a mão agora; quero ouro para comprar uma casa, uma fazenda, bens; anseio por jóias brilhantes que adornem meus dedos; não te peço aquilo que está por vir; pensarei nisto depois que os anos passarem."

Um outro de nós suplica: "Eu peço por saúde, pois estou doente." O melhor dos médicos aparece e gentilmente promete: "Vou curar a sua alma, tirarei a lepra e o tornarei são." "Não, não", respondemos, "não foi isso o que pedi, ó Jesus! Peço um corpo forte, para que eu possa correr como Asael ou lutar como Hércules; quero me livrar da dor física, mas não te peço saúde espiritual, porque não é isso que quero." Um terceiro implora por felicidade. "Ouve-me", disse Jesus, "meus caminhos são agradá­veis e minhas veredas, tranqüilas." "Não é essa alegria que procu­ro", replicamos precipitadamente. "Quero um cálice transbordante, para saboreá-lo deliciosamente; tenho paixão por noitadas fes­tivas e dias alegres; quero danças, festanças e outros prazeres co­muns deste mundo; reserve o seu porvir para os fanáticos — que eles vivam de esperança; eu prefiro este mundo e o presente."
Assim cada um de nós, a seu modo, dirigiu seu amor para coisas terrenas e desprezou as do alto. Certamente não foi um pintor malvado que rascunhou nossas vidas com seu lápis de desenho: "O intérprete levou-os novamente, e os colocou numa sala onde havia um homem que não podia olhar para outro lado senão para baixo e segurava na mão um escovão; acima dele ha via outro com uma coroa celestial na mão; este lhe ofereceu a coroa em troca do escovão; o homem, porém, sem olhar para cima nem prestar a menor atenção, varreu para junto de si a palhae o pó
Enquanto amamos o mundo, "o amor do Pai não está em nós," nem o do Filho Jesus. Não se pode servir a dois senho­res. O mundo e Jesus jamais estarão de acordo. Precisamos poder cantar a primeira parte da estrofe de Madame Guion, antes de podermos concordar com sinceridade com a segunda:
Adeus! prazeres vãos daqui, Esportes e alegrias mil, Pra mim não têm sabor. Felicidade, só na cruz, O resto, vi com meu Jesus, É lixo sem valor.
Seria uma grande omissão não observarmos que nossa ignorância sobre Cristo foi a principal causa de nossa falta de amor por ele. Agora compreendemos que conhecer a Cristo significa amá-lo. É impossível ter uma visão de sua face, contemplar sua pessoa ou entender sua missão, sem sentir nossas almas aquecidas por ele. Tal é a beleza de nosso bendito Senhor, que todo homem, exceto o espiritualmente cego, presta uma pronta homenagem a ele.
Não é preciso eloqüência para apresentar Cristo àqueles que o vêem pela fé, porque ele é seu próprio Orador. Sua glória fala, sua boa vontade fala, sua vida fala e, acima de tudo, sua morte fala. O que estes falam sem emitir sons o coração aceita com boa disposição.
Jesus "está oculto da visão do mundo em geral" pela incredulidade intencional da humanidade; sem isso, a visão dele teria causado profunda veneração. A humanidade desconhece a jazida de ouro escondida na mina de Jesus Cristo, do contrário certamente a explorariam dia e noite. Tampouco descobriram a pérola de grande valor, de outra forma teriam vendido tudo o que possuem para comprar o campo onde ela se encontra. A pessoa de Cristo cala toda eloqüência que quer descrevê-lo; as mãos do artista ficam paralisadas ao escolher as cores adequadas para pintá-lo; e o escultor não saberia por onde começar a talhar a imagem dele nem que fosse possível em uma pedra maciça de diamante. Nada existe na natureza comparável a ele. Diante de seu resplendor o brilho do sol escurece; sim, nada pode competir com ele, e o próprio céu enrubesce com a simplicidade do seu semblante, ao contemplar este "totalmente desejável". Ah, vocês que passam por ele sem considerá-lo, bem disse Rutherford: "Se o conhecêssemos e víssemos sua beleza, nosso amor, nosso coração, nossos desejos convergiriam nele. O amor, por natureza, lança sobre o objeto amado seu espírito e força, bem como tudo o que é bom e digno de amor; e o que existe mais belo do que Cristo?" O mundo judeu crucificou-o porque não reconheceram seu rei, e nós o rejeitamos porque não tínhamos visto que ele preenche nossos anseios nem acreditávamos no seu amor por nossas almas. Todos podemos proferir este monólogo de Agostinho: "Existia uma grande nuvem escura de vaidade diante dos meus olhos, de modo que eu não podia ver o sol da justiça e a luz da verdade; sendo filho das trevas, eu estava envolto em escuridão; eu amava as minhas trevas por­que não conhecia a tua luz; eu era cego e amava minha cegueira, e andava de escuridão em escuridão; mas tu, Senhor és meu Deus, que me tiraste das trevas e da sombra da morte; tu me chamaste para essa gloriosa luz, e eis que agora vejo!"
III. Chegamos agora à parte prática desta meditação e consideraremos as emoções despertadas por dela.

Primeiro, vemos que a profunda tristeza penitente nos fica bem. Tal qual a lágrima é a melhor rega para o túmulo, e as cinzas são a coroa certa para a cabeça de luto, assim os sentimen­tos de penitência são a maneira certa de lembrar uma conduta que abandonamos agora e repugnamos. Não conseguimos entender o cristianismo daqueles que são capazes de narrar a história de seu passado com satisfação. Já vimos pessoas recontarem seus crimes com tanto prazer quanto um velho soldado descreve suas faça­nhas na guerra. Tais pessoas chegam a exagerar seu mal para tornar seus casos mais dignos de admiração, e a gloriar-se de seus pecados do passado como se fossem ornamentos de sua nova vida. Para estes, repetimos as palavras de Paulo aos romanos: "Agora vos envergonhais." Há ocasiões em que é próprio, bené­fico e louvável que o convertido descreva a triste história de suavida anterior; assim a graça é glorificada e o poder divino exalta­do, e a história de sua experiência pode servir para despertar fé em outras pessoas que se julgam abomináveis demais; é necessá­rio, porém, que isto seja feito num espírito correto, que expresse um sincero arrependimento e pesar. Não objetamos a que se nar­re os feitos do estado anterior à regeneração mas, sim, o modo como isso geralmente ocorre. Se o pecado tem o seu monumen­to, que seja num monte de pedras arremeçadas pelas mãos da excomunhão — não um mausoléu erigido por mãos de ternura. Vamos dar-lhe o enterro de Absalão — não permitindo que des­canse no sepulcro real.

A libação de lágrimas não deve ser a única oferta no san­tuário de Jesus; vamos também exultar com alegria indlzível. Se temos de lamentar pelos pecados cometidos, quanto mais havemos de nos alegrar pelo seu perdão! Se o nosso estado anterior enche-nos os olhos de lágrimas, será que o novo estado em que nos encontramos não fará nossos corações pularem de alegria? Sim, precisamos e iremos louvar o Senhor pela sua graça soberana e incomparável. A nós cabe entoar-lhe um canto eterno pela mu­dança de nosso estado; ele nos deu discernimento, e fê-lo por mera e imerecida misericórdia, uma vez que, assim como outros, "dele não fizemos caso." Certamente Jesus não nos elegeu para a alta honra de sermos um com ele por causa de nosso amor por ele, pois de fato confessamos exatamente o oposto. Dizem que, ao perguntarem ao santificado antepassado deste escritor, o Dr.Rippon, por que Deus escolheu seu povo, ele respondeu: "Porque o escolheu", e quando repetiu-se a pergunta, ele novamente res­pondeu: "Porque o escolheu, e se me perguntarem isso mais cem vezes, não poderei dar-lhes outra razão." "Sim, ó Pai, porque as­sim foi do teu agrado." Que a nossa gratidão pela graça divina redunde em louvores; que todo o nosso ser entoe honras a ele, o qual nos elegeu de modo soberano, nos redimiu por sangue e nos chamou pela graça.

Não haveríamos também de prostrarmos profundamen­te o espírito com a lembrança da nossa culpa? O objeto da pre­sente contemplação não deveria ser uma punhalada no coração do orgulho? Chegue mais perto, cristão, embora agora revestido da armadura da salvação, e veja como andava outrora nu. Não se gabe de suas riquezas, lembre-se de como era um simples mendigo; nem se glorie em suas virtudes, elas são estranhas ao seu cora­ção; lembre-se das plantas mortíferas — a vegetação nativa da­quele solo mau. Incline-se com o rosto no chão e, apesar de não poder ocultar-se sob as asas como os anjos, permita que o arrependimento e auto-repugnância cubram-no. Não pense que hu­mildade é fraqueza; ela prove o tutano que é a força dos ossos. Incline-se para vencer; prostre-se e torne-se invencível.

Se tivéssemos uma visão correta de nós mesmos, a nin­guém julgaríamos vil demais para ser regenerado e não considera­ríamos uma desonra carregar nos ombros o mais errante do reba­nho. Entre nós há muito do espírito: "Espere-me passar, porque sou mais santo do que você." Aqueles que Jesus teria de agarrar pela mão nós não arrastaríamos nem com uma tenaz; tal o orgu­lho de certos professores, que deveriam ser reconhecidos como legítimos sucessores dos antigos fariseus. Se fôssemos mais pare­cidos com Cristo, estaríamos mais prontos a ter esperança pelos desesperados, valorizar os indignos e amar os que estão atolados em pecado.
A seguinte história, que o autor ouviu de um estimado ministro da Igreja da Inglaterra, talvez possa, como um fato, ser mais eficaz que as palavras. Certo pastor de uma paróquia na Irlanda havia visitado todas as pessoas abrangidas por seu reba­nho, exceto uma. Tratava-se de uma mulher com uma vida depra­vada; ele temia que o fato de entrar na casa dela desse motivo de ofensa aos maldizentes, trazendo desonra para o seu ofício. Num domingo, percebeu a mulher entre os presentes ao culto, e duran­te semanas notou como ela dava atenção à Palavra da Vida..Pen­sou, também, ouvir, entre o som das respostas, uma voz doce e sincera, confessando solenemente seu pecado e implorando mise­ricórdia. Compadeceu-se daquela filha de Eva decaída; ele ansiavapor perguntar-lhe se de fato seu coração havia sido quebrantado e desejava intensamente falar-lhe sobre a graça abundante, na espe­rança de que ela tivesse sido salva do fogo. Mesmo assim, a mes­ma atitude sensível o impediu de entrar na casa; vez após vez ele passou por sua porta com um olhar compassivo, ansioso pela sal­vação dela, porém zeloso de sua própria honra. Isso durou um bom tempo, mas um dia ela o chamou e, em prantos que revela­vam um coração quebrantado, disse-lhe: "Ah, senhor! Se o seu Mestre tivesse estado nesta aldeia metade do tempo do senhor, ele já teria vindo falar comigo há muito, pois sou a pior das pecadoras e preciso mais do que ninguém da sua misericórdia." Podemos até imaginar o coração daquele pastor derretendo ao ver sua atitude ser condenada de modo tão cuidadoso na compa­ração com seu Mestre amoroso. A partir desse dia, ele decidiu não negligenciar ninguém, mas sim reunir todos os "marginalizados em Israel". Meditando nisso, que possamos, para nosso próprio proveito, ser constrangidos a fazer o mesmo, possibilitando que alguma alma tenha motivo para bendizer o nome de Deus porque os nossos pensamentos foram dirigidos para ela. Que o Espírito da graça, que prometeu nos "guiar a toda a verdade" por meio de sua santa influência, santifique para o nosso bem essa visita à casa onde nascemos, despertando em nós todas as emoções conveni­entes e guiando-nos para ações compatíveis com este grato retrospecto. 

Os Incrédulos tropeçam - Os crentes se Regozijam (Sermão). C. H. Spurgeon


“Como está escrito: Eis que Eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer Nela não será confundido.” (Rm 9:33 )

O nosso Apostolo foi inspirado por Deus e, não obstante, ele foi levado a citar passagens tomadas do Antigo Testamento. O Espírito de Deus teria podido ditar-lhe novas palavras; teria podido mostrar-lhe como confirmar a verdade mediante outros argumentos, mas a Ele não Lhe agrada fazer isso. Guia o Seu servo a estabelecer a Verdade presente por meio de verdades reveladas anteriormente, e assim dá-nos o exemplo de como esquadrinhar as Escrituras e de valorizar os antigos oráculos de Deus. A passagem sob a nossa consideração parece estar composta por duas Escrituras entrelaçadas até serem convertidas numa, um método que era utilizado com freqüência pelos apóstolos. Uma parte do texto que estamos considerando encontra-se em Isaías 28: 16.

O Apóstolo não faz uma citação literal, porém dá-nos o sentido em lugar das palavras: "Eis que Eu assentei em Sião uma pedra, uma pedra já provada, pedra preciosa de esquina, que está bem firme e fundada; aquele que crer não se apressará.” (Is 28:16 ). Mas, o Apóstolo Paulo insere essa palavra de profecia na outra, citando desta vez de Isaías 8: 14: "Então Ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel". Não posso evitar fazer uma ou duas observações sobre estas passagens antes de abordar o texto que vamos considerar. 

Em Isaías 8:14, percebe-se uma surpreendente prova da divindade de Cristo. Vide  o décimo terceiro versículo: "Ao SENHOR dos Exércitos, a Ele santificai; e seja Ele o vosso temor e seja Ele o vosso assombro. Então Ele", isto é, o SENHOR dos Exércitos" será por santuário" para os crentes; "mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel". Isaías expressa uma profecia do SENHOR dos Exércitos, e Paulo cita-a em referência ao Senhor Jesus Cristo, com o propósito claro de que concluamos que o Senhor Jesus Cristo não é outro que o próprio Jeová, Ele mesmo.

 Aprendemos da segunda passagem outra Verdade de Deus que serve para ilustrar mais de perto o nosso texto. Em Isaías 28:16, lemos, "Eis que eu assentei em Sião uma pedra". O apóstolo omitiu as palavras "por fundamento" e inseriu as palavras da outra passagem, "mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo". Mas a profecia original de Isaías serve para nos mostrar que o propósito real de Deus ao pôr a Cristo em Sião não era para que os homens tropeçassem nEle, mas sim, para que fosse o alicerce para as suas esperanças. O propósito real de Deus era que Cristo fosse a pedra angular para a confiança humana.


Mas o resultado foi que para um conjunto de homens renovados pela Graça Toda-poderosa, Cristo veio a ser um santuário de refúgio e em uma pedra de dependência. E para outros, deixados na sua própria depravação, Ele tornou-Se numa pedra de tropeço e rocha de escândalo — estes são alguns comentários sobre as primitivas Escrituras que Paulo cita. Vamos, agora, ao próprio versículo. O nosso texto informa-nos que muitos tropeçam em Cristo. E, logo, em segundo lugar, assegura-nos que quem recebe a Cristo e crê nEle, não terá motivo para estar envergonhado.


I. A primeira declaração não necessita nenhuma prova, pois a própria observação ensina-nos que MUITOS TROPEÇAM EM CRISTO. Tão logo Deus foi manifestado na carne, os mortais começaram a tropeçar nEle. "Não é este o filho do carpinteiro?", era a pergunta de quem esperava a pompa mundana e a grandeza imperial. "Conhecemos o Seu pai e a Sua mãe e, não estão conosco todas as Suas irmãs?", era a objeção sussurrada pelos seus próprios concidadãos. O maior de todos os profetas não tinha nenhuma honra na Sua própria terra. O nosso Senhor foi rejeitado por toda a espécie de homens. Ainda que O olhassem desde diferentes origens, todos o faziam com o mesmo olho escarnecedor.


Os fariseus tropeçavam nEle porque Ele não era, nem supersticioso, nem ostentoso; certamente, Ele não lavava as Suas mãos antes de comer, nem tampouco orava nas esquinas das ruas! Ele tinha relações com os publicanos e pecadores! Ele não alargava os seus filactérios. Ele curava os enfermos doentes no dia de repouso! Ele não tinha qualquer respeito pelas tradições, e por tudo isso, todo o 'justo' fariseu O aborrecia. O saduceu, por outro lado, apesar de que odiava a superstição farisaica, desprezava igualmente a Cristo em grande medida. As suas objeções eram disparadas de outro âmbito. Para ele, Cristo era muito supersticioso, pois o saduceu não cria nem em anjo, nem em espírito nem na ressurreição dos mortos — e a todas estas crenças o Profeta de Nazaré sustentava-as abertamente.


O ceticismo filosófico detestava Jesus porque o Seu ensino continha muito do elemento sobrenatural. Ao longo de toda a Sua vida, tanto nas cortes superiores do Herodes ou de Pilatos, como entre as mais baixas fileiras da turba da Judeia, Cristo foi desprezado e rejeitado entre os homens. Desde tempos antigos haviam açoitado a todos os profetas os quais o Senhor tinha enviado, e era pouco surpreendente que agora atacassem ao próprio Senhor. "Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes", isto podiam dizer todos os profetas de Deus, pois Israel não recebeu nem ao homem solitário cujo alimento consistia em gafanhotos e mel silvestre, nem ao mais cordial Espírito que chegou comendo e bebendo.


Eliminaram todos os profetas de Deus e não aceitaram nenhuma da suas repreensões. E quando o próprio Filho chegou, disseram: "Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança." Os judeus a uma voz rejeitaram-No, com a única exceção do remanescente, conforme à eleição da Graça. Mas o judeu não está sozinho na sua ofensa dirigida à Cruz. Sabemos que quando o Evangelho foi levado aos gentios posteriormente, Cristo crucificado foi pedra de tropeço para eles. Os refinados gregos, com os seus diversos sistemas de filosofia, esperavam ver no Messias um pensamento profundo e um gosto clássico. Porém, quando ouviram pregar Paulo sobre a ressurreição dos mortos, não viram nada que adulasse a sua filosofia e então escarneceram abertamente dessa pregação. 


Enquanto o judeu recolhia o seu manto de franjas estendidas e chamava a Cristo 'pedra de tropeço', o grego marchava para o seu templo clássico ou para a sua academia científica, e gritava: "Disparate! Os homens que falam assim devem estar loucos!" Em todo o tempo, inclusive até na nossa época, sempre que Cristo é pregado, o coração humano tem sido instigado imediatamente à ira contra Ele. O embaixador de Deus tem encontrado homens relutantes a receber a paz por ele proclamada. O amado Filho de Deus, que não veio senão com palavras de misericórdia e ternura, foi aborrecido e rejeitado pelos próprios homens a quem veio para abençoar. "Veio para o que era Seu, e os Seus não o receberam.”


Não obstante, nós temos pouco a ver com essas épocas passadas — temos a ver muito mais com o presente e conosco mesmo. E é uma coisa triste saber que no meio desta assembléia, ainda que suponho que nos autodenominamos Cristãos, há muitas pessoas para quem Cristo é ainda pedra de tropeço e rocha de escândalo. É um fato lamentável que há centenas de milhares de pessoas em Londres para quem o Evangelho de Cristo é tão pouco conhecido como dos hindus ou dos tártaros, Cristo não é uma pedra de tropeço para estes — pois não O conhecem e, portanto, não têm a culpa que alguns de vós tendes — por ter ouvido dEle e rejeitá-Lo.

No meio da presente assembléia há alguns que tropeçam em Cristo por causa da Sua santidade. Ele é demasiado estrito para eles. Eles queriam ser cristãos mas, não querem renunciar aos seus prazeres sensuais. Eles quereriam ser lavados no Seu sangue, mas desejam ainda rolar no atoleiro do pecado. Há muitas pessoas que estariam suficientemente dispostas a receber a Cristo se, depois de O receber, pudessem continuar com a sua bebedeira, com a sua devassidão e com o seu comodismo. Porém, Cristo deita o machado à raiz das árvores — Ele diz-lhes que terão de renunciar a tudo isto—“porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos de desobediência", e, além disso, "sem santidade ninguém verá o Senhor".


A natureza humana se levanta contra isto. "Como? Não poderei gozar de nenhuma lascívia favorita? Não poderei desfrutar destas coisas, ao menos, de vez em quando? Tenho de abandonar, por completo, os meus velhos hábitos e os meus antigos caminhos? Tenho de ser feito uma nova criatura em Cristo Jesus?" Estes são termos muito duros, são condições muito severas, e assim, o coração humano retorna às panelas de carne do Egito e agarra-se ao alho e às cebolas do antigo estado de servidão, e não quer ser libertado nem através de um maior que Moisés que eleva a vara para dividir o mar, e promete dar-lhe Canaã , donde flui leite e mel. Cristo ofende os homens porque o Seu Evangelho é intolerante com o pecado.


Outros tropeçam com o nosso bendito Senhor porque não gostam do plano de ser salvos inteira e unicamente por meio da fé. Há algumas dessas pessoas aqui? Eu suponho que haverá algumas. Elas dizem: "O quê? As nossas boas obras não valem nada? Não há nada que possamos fazer para ajudar na nossa salvação? Dize-nos que o que justifica a alma é confiar unicamente em Cristo, sem nada mais. Então não o entendemos, ou ainda que o entendêssemos, nós não gostamos". Isto é demasiado humilhante, demasiado simples, demasiado fácil. "Por quê", diz o homem que sempre tem assistido à igreja da sua paróquia ou na sua casa de reunião, que não deve nada a ninguém e que é generoso para com os pobres—"Por que então a minha posição não é nada melhor que a da prostituta, que percorre as ruas, à meia-noite! Ou que a do ladrão que cumpre o seu mês de castigo, em trabalhos forçados".


Não seria melhor a tua condição, meu querido ouvinte, quanto à tua salvação eterna, se recusas crer em Cristo. A condenação do ímpio descarado é certa, mas, igualmente certa será a tua se, depois de teres ouvido o plano de salvação, dás a volta e o desprezas porque preferes a tua justiça própria à justiça de Deus! Ah, quantos naufragam ao baterem contra esta rocha e quantos são tragados por esta areia movediça! Eles queriam ser salvos, mas não aceitam dobrar o joelho. Eles não estão contentes por receber a salvação de Deus, pela fé em Cristo Jesus, e assim, perecem devido ao seu teimoso orgulho.

Conheci a outros que tropeçam em Cristo por causa da doutrina que Ele prega, mais especificamente, as Doutrinas da Graça. Nesta casa entra alguém que, se pregássemos um sermão sobre a virtude cristã, diria: "eu gostei desse discurso"; mas, se pregássemos a Cristo, e, começássemos a falar a respeito das doutrinas profundas contidas no Evangelho, tais como a eleição, a chamada eficaz e o eterno e imutável amor, imediatamente se zangam quase até o ponto de ranger os seus dentes. Queriam ter a Cristo, dizem eles, mas não podem aceitar estas doutrinas. "O quê? Deus salva a quem quer e nem sequer pede permissão à criatura? Fará o que Lhe agrade conosco assim como um oleiro faz o que quer com a massa de argila? Hão de dizer na nossa cara que não depende de quem quer, nem de quem corre, mas sim de Deus que tem misericórdia? Não podemos suportar isso — dirigir-nos-emos a algum outro lugar onde o homem receba maior consideração, e onde Deus não seja colocado tão acima das  nossas cabeças".


Ah, mas, meu amigo, Jesus Cristo não elaborará a Sua doutrina para te agradar, nem diluirá a verdade da Escritura para que se adapte aos teus gostos carnais. Observa que é no nono capítulo de Romanos onde se encontra o meu texto, e nesse mesmo capítulo de Romanos tens a declaração mais clara e audaz que em qualquer parte foi registrada concernente à Soberania da Graça Divina, e se tu decides fazer da Soberania uma desculpa para não creres em Cristo, perecerás para tua desgraça; e, perecerás merecidamente também, porque queres discutir com a Palavra de Deus e condenas a tua própria alma a ser castigada pela Soberania de Deus.


Mas, na verdade, meus queridos amigos, quando os pecadores estão resolvidos a objetar a Cristo, a coisa mais fácil do mundo é encontrar algo com que objetar. Tenho conhecido a alguns que tropeçam por causa do povo de Cristo. Dizem: "Bem, eu queria crer em Cristo, mas observa aos crentes! Vê quão inconsistentes são eles. Contempla a tantos membros da igreja e vê em que caminhos ímpios caminham, incluindo a alguns ministros", e então, começam a enumerar diversos faltas de alguns eminentes servos de Deus, e pensam que esta é uma desculpa para que eles mesmos vão para o Inferno porque outros não caminham retamente no caminho para o Céu!


Oh, mandarás a tua alma para o Inferno porque outra pessoa não é tudo o que deveria ser? Se Davi cai e se Davi é restaurado, é essa uma razão pela qual tu devas cair, para não ser restaurado, alguma vez? O que importa que alguns peregrinos que se dirigem ao Céu se dirijam à 'Vereda Cômoda do Prado (1) ' e tenham de retornar ao caminho coxeando? É essa uma razão pela qual devas seguir o caminho que conduz à 'Cidade da Destruição'? Parece-me, amigo, que isto só deveria fazer-te mais diligente para procurar fazer firme a tua vocação e eleição! Os naufrágios dos demais deveriam levar-te a navegar mais cuidadosamente; a falência de outros homens deveriam conduzir-te a comercializar com maior diligência e humildade. Porém, citar os defeitos de outros, como uma razão pela qual devas continuar no erro dos teus caminhos, é o método de raciocinar do néscio! Tem muito cuidado, para que não descubras a tua necessidade quando estiver sumida nas chamas do Inferno.

A objeção real do homem natural não é, entretanto, nem contra o povo de Deus, nem contra o plano de salvação, considerado em si mesmo, mas contra Cristo. A pedra de escândalo é Cristo — a Pessoa de Cristo. Vós não quereis aceitar que Este Homem reine sobre vós!; Não estais anuentes a que Ele leve a coroa e a que receba toda a honra da vossa salvação. Preferiríeis perecer no vosso pecado antes que Jesus Cristo seja engrandecido pela vossa salvação. Esta é uma severa acusação, vocês dirão. Se não é verdade, rogo-vos que me demonstrem que é falsa, crendo em Jesus! Se não tendes objeção a Cristo, aceitai-O! Pecador, se tu disseres que não tropeças por causa de Cristo, eu exorto-te, então, a que te apegues a Ele! Se Ele não é detestável para ti, tome-O nos teus braços, agora!


Ora, homem, se estivesses no teu juízo, posto que Cristo te pode salvar com uma salvação eterna, tu certamente O agarrarias, a menos que houvesse alguma objeção pelo caminho. E como não te apegas a Ele, eu te digo que há um obstáculo no teu pecaminoso coração, um tropeço em Cristo que será a tua ruína a menos que Deus te livre disso. Que Deus me ajude agora a argumentar uns poucos minutos com quem não crê em Cristo, com quem O tem feito uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo.


Querido amigo, deixa-me que me aproxime de ti e que tome a tua mão e fale contigo. Alguma vez consideraste quanto insultas a Deus, o Pai, por rejeitares a Cristo? Se fosses convidado para a festa de algum homem, e te aproximasses da mesa e partisses todos os pratos e os lançasses ao chão e os pisasses, não seria isso um insulto? Se fosses um pobre mendigo sentado à porta, e, motivado por pura caridade, um homem rico te convidasse para a sua festa, o que pensarias merecer, se tratasses suas provisões, desta maneira? E, não obstante, esse é precisamente o teu caso. Não tens nenhum merecimento ante Deus. Tu és um pobre pecador sem nenhum direito sobre Ele e, todavia, agradou-Lhe preparar uma mesa para ti. Os Seus novilhos e os Seus animais engordados foram sacrificados, e agora tu não queres vir!


Não! Tu ainda fazes pior! Pões objeções à festa! Desprezas a deleitosa terra e a boa provisão de Deus! Considera somente com quantos gastos se tem realizado a provisão da salvação! O Pai eterno entregou o Seu Filho. Presta atenção! O Seu Bem-Amado, o mais querido do Seu coração, o Seu único Filho, foi entregue à MORTE, e tu desprezas um Dom como este? O que pensas? Não te faria ruborizar se entregasses o teu único filho para lutar pelo teu país e aqueles a quem o entregasses, te desprezassem a ti e ao teu dom? Se por causa de algum patriotismo sobre-humano pelo bem do teu país, chegasses inclusive a matar o teu filho, não te feriria na carne viva se os homens se rissem de ti e fizessem escárnio do ato?


E, todavia, isso é o que fazes para com o Pai eterno, o Qual por amor aos homens apartou do Seu peito ao Seu Amado, cravou-O no madeiro e cobriu-O de dores inexprimíveis. Tu desprezas o dom inexprimível, o ato mais rico de generosidade que inclusive o coração infinito de Deus tivesse podido imaginar, ou a mão infinita de Deus tivesse podido levar a cabo! Tu desprezas tudo isso! Tocas a Deus, permite-me dizer-te, na menina dos Seus olhos. Tu O tens ferido na parte mais sensível! Melhor seria que corresses sobre o fio da Sua espada ou te lançasses sobre as protuberâncias do Seu broquel que desprezares e rejeitares ao Seu unigênito Filho, imolado pela culpa humana.

Considera, de novo, que prova está aqui da tua pecaminosidade, e quão rapidamente serias condenado finalmente, quando este pecado esteja escrito sobre a tua testa. Ora, homem, não haveria necessidade de denunciar nenhum outro pecado contra ti; o livro no qual as tuas faltas têm sido raramente registradas necessita ser aberto, pois esta prova bastaria! Tu tens feito de Cristo uma pedra de tropeço, objetaste ao amado Filho de Deus; então, por que necessitamos nós de outras testemunhas? Pelo testemunho desta única boca serás condenado: "Tu tens aborrecido ao Príncipe de glória. Tu tens-Lhe recusado dar-lhe o teu coração"; portanto, levem-no ao lugar de onde veio. O que importa que não tenhas sido alguma vez um adúltero ou um freqüentador de bordéis, não basta isto? Não mostra isto a escuridão do coração do traidor e a baixeza do teu caráter? Este não quis receber a Cristo! Ele converteu o alicerce que Deus pôs em Sião "em pedra de tropeço e rocha de escândalo". O que pensas disto, tu que me estás escutando?


Além disso, como isto será uma pronta testemunha para te condenar, como aumentará isto a tua miséria? Pensas que Deus será terno contigo quando tu não tens sido terno com o Seu Filho? Quando te lançar para o Inferno, fará com que as chamas sejam menos ardentes? Pensas que a Sua vingança será refrescante para com o homem que tropeçou no Seu Filho? Não! Porém, isso antes, afiará o gume da Sua espada. "Este traidor, com efeito, desprezou o sangue de Cristo". Isso derramará combustível sobre as chamas. "Este homem fez de meu Unigênito Filho uma pedra de tropeço, e agora vou demonstrar-lhe que «quem cair sobre esta pedra, despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó.»


Pensas tu que um rei estaria mais inclinado a ser misericordioso para com um traidor, se soubesse que esse traidor tem desprezado o seu filho? Não. Parece-me mais antes que a sentença deveria ser muito mais severa. Ah, Pecador!, ainda que todos os pecadores escapassem, tu que tens ouvido o Evangelho, não escaparás; ainda que as flechas de Deus errassem noutros pecadores, cravar-se-ão em ti! Tu serás o alvo especial da vingança todo-poderosa, porque foste desobediente e tropeçaste nesta pedra de tropeço. Reflita, homem, não selará isto a eternidade da tua dor? Como poderás escapar se descuidas uma salvação tão grande? Tu quebraste a única ponte que teria podido conduzir-te à segurança! Tu tens desmantelado o único refúgio que teria podido proteger-te da ira divina. "Já não resta mais sacrifício pelos pecados". 


Como poderia restar algum? Quando estiveres no Inferno, pensas que Cristo virá uma segunda vez para morrer por ti? De novo derramaria o Seu sangue para te tirar do lugar de tormento? Homem, tens uma imaginação tão vã para sonhares que haverá um segundo resgate oferecido para aqueles que não têm escapado da ira vindoura, e que Deus, o Espírito Santo, virá de novo e tratará com os pecadores que teimosamente O rejeitaram anteriormente? Não, na medida em que o teu Salvador seja rejeitado, e desprezes a vida eterna, e o próprio alicerce seja uma pedra de tropeço, não pode restar nada para ti a não ser uma terrível espera do julgamento e ardente indignação.


E agora outra palavra mais para ti. Não faz tremer o teu coração esta perspectiva do caso? Não é suficiente teres quebrantado a lei de Deus? Por que chegaste ao ponto de desprezares o Seu Filho? Oh, meus olhos! Se vós pudésseis chorar para sempre não choraríeis lágrimas suficientes, porque uma vez recusaste olhar para Ele, que é agora o vosso gozo diário. Não é este um dos piores pecados que teremos de confessar? E, oh Pecador, não o confessarás agora? Não quebrantará o teu coração este pensamento: que tu tens desprezado até aqui a Quem é muito encantador e todo Ele terno? Que o Espírito de Deus introduza isso em vós como um prego em lugar seguro; e parece-me que vós ides voltar-vos para o Redentor dizendo-Lhe: "Meu Senhor e meu Deus, perdoa-me por ter sido tão rude Contigo. Aceita-me, recebe-me no Teu seio, lava-me com o Teu sangue. Toma-me como Teu servo, e salva-me com uma grande salvação".


Feliz é o homem que é conduzido pela graça divina a confessar assim a sua falta, e não tropeça mais. Depois de tudo, que obstáculo há para que tropecemos? Oh, meu querido Ouvinte, por que deverias rejeitar a Cristo? Ele não é um duro capataz: "O Seu jugo é suave e o Seu fardo é leve." Por que deverias recusar a tua própria misericórdia? Acaso, ser salvo é uma desgraça? Acaso, ser limpo do pecado é uma calamidade? Acaso, ser feito um filho de Deus é uma desvantagem? Escapar do Inferno e voar para o Céu, não é a mais desejável de todas as misericórdias? Por quê, então, desprezar a Cristo? Isso é irracional! Que Deus te livre deste irracional pecado e te conduza agora a aceitar a Cristo com um coração perfeito, e Ele receberá o louvor por isso eternamente.

II. Agora, vou procurar explicar, com a ajuda do Espírito de Deus, a segunda parte: a parte mais consoladora do texto: "E TODO AQUELE QUE CRER NELE NÃO SERÁ CONFUDIDO". Sentir-te-ás confundido ao pensar que não creste antes; serás confundido ao pensar que não crês mais firmemente agora; com freqüência sentirás vergonha e confusão de rosto por conta da tua ingratidão, e da tua pecaminosidade e do teu desencaminhamento de coração. Porém o texto quer dizer que não serás confundido por teres confiado em Cristo. Quem crê em Cristo nunca terá alguma causa para estar confundido por havê-lo feito.


1. Ao tratar isto, antes de mais nada, vou comentar quando é que aqueles que confiam em Cristo poderiam ser confundidos por ter crido nEle. Bem, eles poderiam envergonhar-se, se Cristo os abandonasse alguma vez. Se alguma vez se chegasse a isto: que Ele, o esposo do meu coração, me abandonasse e me deixasse como uma viúva solitária, no mundo; se, depois de haver dito: "Não te desampararei, nem te deixarei", Ele Se apartasse, depois de tudo, e, nunca dedicasse ao Seu servo qualquer sorriso do Seu rosto, então eu teria razão, na verdade, de ver-me confiado por ter posto a minha confiança num Salvador tão inconstante.


O Cristo do arminiano é alguém de quem têm boa base para envergonhar-se, porque redime aos homens com o sangue precioso e, não obstante, vão para o Inferno. O Cristo doarminiano ama hoje, mas odeia amanhã; salva por graça, mas essa graça depende do uso que o homem faça dela; resgata aos homens de um estado de condenação e justifica-os; mas, depois de tudo, deixa-os retornar ao estado de condenação e, depois de tudo, perecem.


Porém, o Cristo dos cristãos é uma Pessoa muito diferente: uma vez que os ama jamais os abandona; onde Ele tem começado uma boa obra continua fazendo-a e aperfeiçoa-o. O Cristo do cristão diz: "Eu dou às Minhas ovelhas vida eterna; e não perecerão jamais, nem ninguém as arrebatará da Minha mão". Enquanto o cristão não descubra que a Graça de Deus se foi por completo, que o amor de Cristo cessou, não terá qualquer razão para ser envergonhado. Além disso, o cristão teria razão para duvidar se Cristo fosse falhar-lhe, quer quanto à providência ou à graça, ou nos seus tempos de tribulação e de tentação. Se o Senhor não me segurar quando estiver no meio dos rios, teria razão para me corar pela minha esperança. Se caminhando através da fogueira as chamas me queimassem, e não encontrasse que o Senhor fosse o meu pronto auxílio nas tribulações, então seria envergonhado.

Oh, Amados, quando poderá acontecer isto? 'Em seis tribulações te livrou, e na sétima não te tocará o mal'. Têm sido muito abatidos e não teriam podido estar mais abaixo, a menos, que tivessem estado na vossa tumba. Têm sido muito pobres, tendo escassamente pão para comer ou roupa para vestir! Tudo aquilo no que confiavam deixou de ser o vosso sustento. Ficaram órfãos no mundo, com a exceção do vosso Pai que está no Céu. Mas, mesmo assim, apesar de tudo isso, não vos foi dado o pão? Não vos tem sido assegurada a vossa água? E, não tem de ser o vosso testemunho hoje, no concernente a Deus, que Ele tem sido um amigo que tem permanecido mais próximo que um irmão? Bem, então não serás envergonhado jamais, porque nunca te chegará um tempo quando te deixes perecer através da pressão das tribulações, ou quando permita que sejas destruído pela força das tentações.


Além disso, um Cristão teria motivos de ser envergonhado se as promessas de Cristo não fossem cumpridas. São muito ricas e muito plenas, e há muitíssimas delas, e se eu tomo estas promessas e atuo segundo a Palavra de Deus, e logo, depois de tudo, encontro que a promessa é um mero papel de refugo; se o Senhor rompesse o Seu próprio juramento, então eu seria envergonhado por ter acreditado num Deus infiel! Mas, quando será isso? Cristão, ainda não te chegou esse tempo? Tens visto promessas aplicadas com poder ao teu coração, e as tens levado a Deus em oração. Permite-me apelar à tua experiência. Não têm sido cumpridas, além da tua expectativa ou da tua fé? Não tem feito Deus por ti, coisas extremamente abundantes, que ultrapassam o que possas pedir ou pensar? 


E, todavia, nesta manhã talvez tenhas medo de que a Sua promessa não seja cumprida! Estás a assistir aqui com um espírito abatido, tiveste tantos problemas durante a semana que realmente começas a estar envergonhado por teres confiando em Deus. Envergonha-te de ti mesmo por estares envergonhado! Mas, podes estar seguro de que a tua confiança não é algo de que devas envergonhar-te. Mas, oh meus irmãos, quão envergonhado estaria o cristão se quando chegasse ao momento da morte não encontrasse apoio, não visse a qualquer anjo amável junto ao seu leito, ou que algum Salvador lhe sustentasse a sua cabeça ao alto, no meio das ondas! Mas, ouviste alguma vez de algum cristão que se envergonhasse na hora da sua morte? Não é antes pelo contrário, mais exatamente, o claro testemunho de todos os que partiram que os seus últimos momentos foram dourados com a luz do sol do Céu?

Não cantaram nos seus leitos de morte, com Davi: "Sim, ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque Tu estás comigo; a Tua vara e o Teu cajado me consolam?” Se, na verdade, pudéssemos despertar na ressurreição e descobrir-nos sem um Salvador; se pudéssemos estar no tribunal de Deus e descobrir que o sangue de Cristo não nos tivesse limpo; se, depois de toda a nossa fé nEle O ouvíssemos dizer: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno", então poderíamos ser envergonhados! Porém, o nosso texto assegura-nos que nunca teremos de sofrer isso. Então podemos apoiar-nos plenamente sobre este doce consolo: que tendo crido em Cristo nunca nos veremos na necessidade de nos envergonharmos da nossa esperança, nem nesta vida, nem na vida vindoura.

2. Tendo notado quando o cristão poderia ser envergonhado, notemos por que poderia ser envergonhado se tais coisas se dessem. Algumas vezes pensei, queridos Amigos, que em algum sentido, se se chegasse a demonstrar que a Bíblia é falsa, nunca me veria envergonhado por ter acreditado nela. Se não houvesse um Salvador, penso que quando estivesse diante do trono de Deus não seria envergonhado por ter crido no Evangelho, porque, parece-me que poderia atrever-me a dizer inclusive ao Deus eterno: "Grandioso Deus, eu acreditei isso de Ti, o que refletia a mais excelsa honra sobre o Teu caráter; cri em Ti que eras capaz de um grandioso ato de graça: a entrega do Teu próprio Filho; cri que eras tão justo que não perdoarias sem um castigo e, todavia, tão misericordioso que preferirias entregar o Teu Filho a não teres misericórdia dos homens.

Cri de Ti coisas mais excelsas que as que creram os judeus, ou os muçulmanos ou os pagãos, e a minha alma amou-Te por isso, na verdade; eu, com efeito, preguei aquilo que pensei que honraria o Teu nome, e agora que resulta ser um equívoco, não me vejo envergonhado por haver crido, pois era algo que deveria de ter sido verdadeiro, que a Tua natureza e Teu caráter faziam provável que fosse verdade, e lamento ao ver que não o é, mas, não estou envergonhado!. Queria que tivesse sido certo; isso far-te-ia mais glorioso, do que o és, grande Deus."


Amados, não estamos sob nenhuma apreensão de que isto aconteça, 'porque sabemos a quem temos crido, e estamos seguros que é poderoso para guardar o nosso depósito.' Por que se envergonharia um cristão se o Evangelho fosse falso? Deveríamos envergonhar-nos, antes de mais nada, porque aventuramos o nosso tudo na Sua Verdade. Arriscamos o nosso tudo em Cristo. O mundo diz que não se deve pôr nunca todos os nossos ovos numa só cesta; e quando um homem especula numa só coisa, e todo se derruba, a gente sábia eleva a sua cabeça e diz: "Ah!, é muito imprudente, é muito imprudente; é melhor teres três ou quatro cordas para o teu arco; não deves depender de uma só coisa".

O mundo está muito no certo nas coisas humanas. Mas, aqui estamos nós, pondo toda a nossa dependência num homem; a minh’alma não tem qualquer sombra de esperança em nenhuma outra parte exceto em Cristo, e eu sei que os vossos espíritos não têm nem sequer a sombra de um fantasma de dependência em nenhuma outra parte, exceto no sangue e na justiça desse divino Redentor, que consumou a nossa salvação e subiu ao alto. Se pudesse falhar-nos, então todas as nossas esperanças se teriam desvanecido, e seríamos os mais dignos de comiseração de todos os homens; se a nossa esperança resultasse ser um engano, seríamos na verdade néscios, e teríamos razão de nos vermos envergonhados pela nossa esperança.


Além disso, seríamos envergonhados porque renunciamos a esta vida pela vindoura; crendo no mundo vindouro, havemos dito: "este não é o nosso repouso; não temos aqui uma cidade permanente". O provérbio do mundo reza: "Mais vale um pássaro na mão do que cem voando"; mas nós, por outro lado, havemos dito que o pássaro na mão não é nada absolutamente, que os cem pássaros voando são tudo. A nossa alma diz: "Sorte! Não a esperamos aqui, é lá que a sorte tem de ser encontrada". "Riqueza! Ninguém é rico na terra, as riquezas estão no Céu, o verdadeiro tesouro está na Glória". "Amor! O amor não encontra um objeto apropriado aqui; o nosso afeto está posto nas coisas de cima, onde Cristo mora à mão direita de Deus".


Agora, se as coisas resultassem mal, e tivéssemos crido em vão, então seríamos envergonhados pela nossa esperança, mas não até então! Não até então, amados! E isso não acontecerá nunca! Sabemos em quem acreditamos, e temos confiança que ao renunciarmos a esta terra, só renunciamos a um punhado de cinzas, para podermos gozar das riquezas e da Glória para sempre. Além disso, se Cristo nos falhasse, seríamos envergonhados porque começamos jactando-nos antes de ter terminado a batalha. "No Senhor se glorificará a minha alma".


Espero que digais, queridos Amigos, que ainda que não tenhais entrado no Céu, e ainda não vissem a Cristo cara a cara, aprendestes a glorificar-se na cruz de Cristo, e ninguém foi capaz de detê-los na vossa exaltação. Tens-te glorificado-te em Cristo! Tens dito que Ele é um Alicerce seguro, que Ele é um precioso Esposo, que Ele é Tudo em Tudo para ti e digno do teu melhor amor! Mas, se Ele te falhasse, então estarias na posição de um homem que se gabou antes de tempo. Porém, nós nunca seremos envergonhados; fazemos bem em jactarmo-nos à boca cheia. Glorifiquemo-nos em Cristo. Mas oh!, se Ele nos falhasse —coisa que Ele nunca fará—- então nós seríamos, na verdade, envergonhados!

Além disso, temos feito algo mais de que jactarmo-nos! Vocês e eu, na realidade, dividimos o saque! E, oh!, se a batalha se perdesse, então seríamos envergonhados! Disseram-nos de que numa das grandes batalha do continente europeu em tempos antigos, os franceses, antes de que se iniciasse a batalha, começaram a vender os cativos ingleses entre eles, e calculavam quanto do despojo de guerra corresponderia a cada soldado; porém, felizmente, nunca conseguiram a vitória. Mas vós e eu já temos entrado no nosso descanso; recebemos o selo da nossa herança; temos começado, inclusive na Terra, a comer os cachos de Escol. E se tudo fosse um engano, seríamos envergonhados, mas não até então. Valor, queridos Amigos! Podemos prosseguir valorosamente, dividindo ainda o espólio; pois como Cristo é veraz e Deus é fiel, não haverá razão para sermos envergonhados.


Conheci  algumas pessoas que são envergonhadas por terem feito uma má especulação, porque induziram outros a arriscar-se nela; foram mais envergonhadas ao dar a cara aos seus amigos que perderam dinheiro, do que foram por reconhecer que elas mesmas também perderam. Vós e eu temos estado induzindo outros a embarcar-se nesta grandiosa aventura; ensinamos a outros a crer em Cristo; e alguns de nós escassamente passamos um dia sem ganhar outras almas para terem confiança em Cristo. Oh, temos uma doce segurança de que não pregamos fábulas astutamente idealizadas e de que nunca seremos envergonhados.

3. Tenho de anelar a vossa paciência só por um momento mais, enquanto prossigo agora, a mencionar quem são aqueles que nunca serão envergonhados? A resposta é geral e especial. O texto diz: "todo aquele que crer", ou seja, qualquer homem que tenha vivido, ou que viva, que creia em Cristo, não será envergonhado. Se tens sido um pecador descarado ou um moralista; se és educado ou iletrado; se és um príncipe ou um mendigo, não importa: "todo aquele que crer em Cristo, não será envergonhado". Tu, homem, que estás mais longe, ainda que raramente venhas à Casa de Deus, mas se crês em Cristo hoje, jamais serás envergonhado por causa dEle. Vós, que tendes assistido na Casa de Deus durante anos, e se vos sentis culpados por terdes rejeitado a Cristo, se confiardes nEle agora, não sereis envergonhados.

Mas há uma particularidade, que é, "todo aquele que crer". Os outros serão envergonhados. Tem de haver uma fé real e sentida; tem de haver uma confiança simples na Pessoa e na obra de Jesus: sempre que está presente essa confiança, não haverá vergonha. "Ah!", diz alguém, "mas eu tenho tão pouca fé; tenho medo de que serei confundido". Não, tu estás sob a condição: "todo aquele"; "que crer", ainda que a sua fé seja muito pouca, nunca será envergonhado. "Ah!", diz outro, "mas eu tenho muitas dúvidas". Mesmo assim, querido coração, posto que tu crês, não serás envergonhado; todas as tuas dúvidas e todos os teus medos jamais te condenarão, pois a tua fé há de prevalecer.

"Oh! Mas", diz alguém mais, "a minha corrupção é muito forte; assisti esta manhã lamentando-me devido às minhas imperfeições; elas alcançaram o controle da minha fé, e eu tenho caído durante a semana". Sim, alma, tão completamente caída como estás, se tu crês, nunca serás envergonhada. Olha-te o pecado na cara? Sentes-te muito abatido sob o sentido da tua própria indignidade? Atreve-te a crer em Cristo tal como és, com pecados e tudo: aventura-te a crer nEle sem nenhuma outra confiança. Quando as perspectivas são escuras e as graças mortas, quando as evidências são negras, quando tudo te mostra desagrado e como uma maldição, atreve-te a crer nEle!

Toma-o agora para que seja teu amigo quando não contas com nenhum amigo! Foge agora para este Refúgio quando toda a outra porta está fechada! Agora que o inverno congelou toda corrente, vêem agora e bebe agora desta corrente que flui para sempre; este poço de Belém que está dentro da porta, que não pode falhar-lhe nunca; e não necessitas de pôr a sua vida em perigo para alcançá-lo, é livre para ti, neste instante! Agacha-te e bebe confidencialmente! Agacha-te e bebe e não terás mais sede; pois "todo aquele que crer nEle, não será  envergonhado".

4. Para concluir, o texto significa mais do que diz; pois se bem que é certo que diz que não será envergonhado, significa além disso que será glorificado e cheio de honra. Se tu confias em Cristo hoje, isso trazer-te-á a vergonha dos homens, assegurar-te-á tribulações e aflições, mas também te garantirá honra aos olhos dos santos anjos de Deus e Glória, no fim, aos olhos do universo reunido! Onde está o homem que confia em Cristo, hoje? Ali está ele no pelourinho, e os homens dizem: "Ah! Oh! O néscio! O néscio! O néscio! Confia em Deus, a quem não pode ver! Crê num Cristo de quem ouvimos mas que nunca nos falou! Confia no sangue de um galileu crucificado!


O mundano grita: "Nós somos muito sábios para isso; nós vamos crer em teorias geológicas, no espiritualismo ou na metafísica; vamos crer no próprio diabo antes que crer em Cristo!" Assim eles ridicularizam o homem que confia em Cristo. A cena é mudada, a geração dos vivos partiu, e o mundo converteu-se num grande cemitério. Ali jazem.


Inumeráveis montículos indicam onde estão dormindo os corpos dos homens. A trombeta toca, soa claramente através do Céu e da Terra, e das tumbas sobem os corpos que uma vez foram alimento do verme, e as almas retornam a esses esqueletos: e agora, onde está o homem que confiou em Cristo?
A trombeta a todos tem despertado da suas tumbas e juntos despertam: "Onde está o homem que confiou em Cristo?" Quem é o que pergunta por ele? O próprio Rei no trono tem feito a pergunta! O Rei Jesus, sentado no Seu tribunal, busca o Seu amigo: "Onde está o homem que confiou em Mim? Tragam-no aqui". Vejam a mudança, agora não há vaias, nem gritaria, nem risadas, nem calúnia! Um esquadrão triunfante de espíritos resplandecentes transporta o crente à mão direita de Jesus, e ali se senta entronizado como Cristo, sentado com Ele para julgar os homens e os anjos, reinando sobre o Trono de Cristo em todo o esplendor de Cristo!


"Assim se fará ao homem a quem o rei deseja honrar," assim se fará ao varão que põe a sua confiança em Cristo! Vamos, cristão, sem importar qual seja o teu estado hoje, sem importar como ressoe nos teus ouvidos a zombaria do mundo, pensa nessa honra obstinada que a turba de pecadores terá de te render no Último Grande Dia! Pensa em como a tua fama e a tua reputação se levantarão conjuntamente com os teus ossos! E assim como os vermes não podem devorar o teu corpo para impedir a tua ressurreição, tampouco a calúnia nem a censura devorarão o teu caráter para impedir a tua ressurreição, também! A Glória será tua, a Glória eterna, enquanto que os teus inimigos serão revestidos de vergonha e desprezo eternos! 

Bem, o que dizeis vós, queridos Ouvintes? De que lado estais esta manhã? É Cristo uma pedra de tropeço para vós? Prosseguireis tropeçando nEle e objetando-Lhe? Dizeis, antes: "Não, queremos ter a Cristo e confiar nEle." Oh, se o Senhor vos tem conduzido até esse ponto, aplaudirei de gozo! E vós, vós anjos, tocai as vossas harpas! Vós serafins! Afinai de novo as vossas liras; pois há gozo no Céu como há gozo na Terra quando uma alma chega a pôr a sua confiança em Cristo. Que o Senhor nos conduza a cada um de nós a fazê-lo, para glória do Seu Nome. Ámem. Ámem.


(UNBELIEVERS STUMBLING—BELIEVERS REJOICING)
 
de C. H. Spurgeon
(Inédito em português!)


OS INCRÉDULOS TROPEÇAM — OS CRENTES REGOZIJAM-SE

Sermão n.º 571, pregado na manhã de domingo 22 de maio de 1864, por Charles Haddon Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.

Notas:
[*] ACF - Bíblia, edição João Ferreira de Almeida, Corrigida Fiel, versão e-Sword, cotejada com «A Bíblia Sagrada» João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Corrigida, Edição da Sociedade Bíblica, Rua José Estêvão, 4-B, 1100 LISBOA, PORTUGAL, Copyright das Sociedades Bíblicas Unidas (1968)


(1) By-path meadow: "Vereda Separada do Prado' foi traduzido também como: 'Campo da Vereda'. No «Progresso do Peregrino» de João Bunyan é uma vereda aparentemente mais cómoda de seguir, mas, que levava os peregrinos a extraviar-se. Nota de Allan Román.

fontes: 
Adapted from The C.H. Spurgeon Collection, Versión 1.0, Ages Software, 1.800.297.4307
wwvv.spurgeon.com.mx(Tradutor:AllanRomán23/XII/2009)
Tradução em português: Carlos António da Rocha (de 5 a 7 de janeiro de 2010) -

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